segunda-feira, 29 de junho de 2009

O INTERIOR NA CAPITAL

A urbanização acelerada transformou não apenas a paisagem das cidades, mas também as relações interpessoais. Nas vilas, independente de onde estejam localizadas, as pessoas se sentem mais próximas umas das outras. E essa proximidade diminui a sensação de insegurança. “Atualmente, a gente só fica na calçada até às 8h (20h)”, afirma Raimunda Silva de Holanda, 80, moradora da Vila Azul, localizada na esquina da Rua Padre Mororó. E justifica: “Hoje, não se pode mais confiar em ninguém”.O medo da violência, como relata uma das moradoras mais antigas da Vila Diogo, localizada entre a Avenida do Imperador e a Rua Princesa Izabel, vem interferindo na estética dessas construções. “Antes, a gente só fechava a metade da porta, atualmente, só vai com o cadeado”, admite Sônia Alves (foto), 62, natural de Camocim, há 39 anos moradora da Vila Diogo.
Apesar da modernidade, as vilas ainda guardam um pouco do bucolismo de outros tempos, quando as casas não precisavam de grades e nem de cadeados. O crescimento das famílias fez com que algumas ganhassem um segundo pavimento, como é possível observar na Vila Diogo. Estes espaços conservam características especiais como o contato com a vizinhança. “Se há uma necessidade a gente sabe que pode contar com o vizinho´, garante Sônia Alves, que lamenta ter trocado a meia porta pela grade e o cadeado. No entanto, a falta de segurança não é suficiente para acabar com o hábito que sua mãe conserva até hoje, aos 90 anos: sentar na calçada, todos os dias, no fim da tarde. ´A gente faz isso diariamente, a partir das 4 horas (16h)´.A moradora da Vila Diogo confessa ter saudade do que ela chama de “outras épocas”. Conta que era uma tranqüilidade a morada no local, reclamando que os costumes estão sendo alterados. “Antes, todo mundo ficava na calçada até tarde, o que não é mais possível”.
A vida era menos corrida, daí as pessoas terem mais tempo para uma conversa mais demorada no início da noite. Durante a semana, assegura que a vila tem mais vida porque há movimentação de carros e pessoas. Agora, aos domingos, a situação muda. “É muito esquisito”, diz Sônia Alves. No geral, avalia a convivência como calma. “De vez em quando aparece um gaiato para mexer no cadeado”, ressalta. Para completar a segurança, a moradora cria uma cadela. “Ela é pequena, mas é esperta”, brinca.
Fonte: DN
Postado por Tadeu Nogueira