sábado, 4 de julho de 2009

O FIM DO KODACHROME

É muito provável que você já tenha visto a foto ao lado, da afegã Sharbat Gula, que em 1984 ilustrou aquela que se tornaria a mais célebre das capas da National Geographic. A transparência e a profundidade do olhar de Sharbat, e a infinidade de tonalidades e texturas do seu véu puído, são um exemplo definitivo do resultado que um grande fotógrafo – no caso, o americano Steve McCurry – é capaz de extrair de um "assunto" quando munido de uma ferramenta singular: um rolo de filme Kodachrome. Essa película mítica, a primeira a popularizar a fotografia em cores e a mais cultuada entre sucessivas gerações de profissionais, moldou não apenas estilos pessoais como a própria fotografia. A precisão com que capta as mais sutis variações de cor e sua resistência incomum à degradação fizeram do Kodachrome uma lenda. Na semana passada, a Eastman Kodak, que desde 1935 fabricava o Kodachrome, anunciou o ponto final nessa longa e rica trajetória. Acossado pela concorrência de outros produtos da mesma empresa e de suas competidoras, pela imensa dificuldade de seu processamento e, principalmente, pelos avanços da revolução digital, o filme teve sua produção encerrada.
O Kodachrome pertence a uma era em que só o tempo, a dedicação e a paciência produziam obras duráveis. Seu processo de revelação, caro e complexo, foi um obstáculo à sua popularização. O Kodachrome nunca foi revelado no Brasil. Era preciso despachá-lo para os Estados Unidos e sofrer duas semanas de agonia até receber as fotos.
O Kodachrome, porém, conta com um último foco de resistência: o Dwayne’s Photo, um laboratório familiar na cidade de Parsons, estado do Kansas, que promete revelar rolos desse filme legendário até 31 de dezembro de 2010. Pode-se apostar que o Dwayne’s vai ter trabalho a fazer até o último dia.
Fonte: Veja
Postado por Tadeu Nogueira às 02:19h
Foto: Steve McCurry