ANUNCIA UM DEUS DE POUCA GENTE
(Artigo de Carlos Jardel)
Ao celebrarmos mais uma festa de São Francisco de Assis, me veio aqui alguns questionamentos a respeito deste santo popular, cujos admiradores mundo afora superlotam igrejas para manifestar uma devoção, que no meu pobre entendimento, não é difícil de se explicar. Eis o que penso:
“Nosso Jesus atual é um Deus de pouca gente, tendo em vista que os que o seguem atualmente, com fidelidade bajuladora e proselitista nesta conjuntura eclesial e social, fazem parte das elites. A minoria! Já a grande maioria, os pobres, prefere entender Jesus na pessoa de Francisco de Assis, o santo humilde e das multidões”.
É logico e evidente que o popular Francisco de Assis irá sempre atrair multidões e multidões de pobres em torno de sua imagem, pois a história se responsabilizou de transmitir com fidelidade as características reais do Jovem “Louco de Assis” que entendeu na vida a proposta do Evangelho do Jovem Nazareno. Este, por sinal, não teve a mesma sorte histórica que teve Francisco.
Francisco de Assis foi fiel na transmissão do Evangelho. Simples, sem teorias científicas ou teologias desconexas da vida do povo. Uma transmissão de fé engajada e literalmente pé no chão. Um grande e voluntário publicitário do mestre que, questionou com atitudes o modelo eclesial da época ao apresentar ao mundo o verdadeiro Jesus dos desvalidos.
Os pobres, “preferidos de Jesus”, veem no Francisco histórico o Cristo dos pobres, mas não conseguem ver no próprio “Cristo histórico” tal intenção. O problema é que os publicitários de Cristo, teorizaram-no demasiadamente, elitizaram Jesus, afastando-o das camadas periféricas da sociedade. Construíram palácios e palacetes luxuosos, ambiente na qual os excluídos não se sentem bem. Na pífia dinâmica de transmissão de um credo, cuja linguagem é inacessível e romana, atribuíram a Jesus uma ideia majestosa de governo, dispensando a simplicidade do processo catequético de Jesus que atraía multidões para ouví-lo.
Hoje nos apresentam um Jesus rico, acadêmico e sedentário, que não consegue fazer dietas dos produtos gordurosos produzidos pelas tecnologias do sistema. O Jesus que apresentam é burguês, com aparência de “playboy”, frequentador de baladas noite afora e sua mensagem é caduca, meramente nostálgica e abestalhada, com propósitos que o próprio não acredita. Deste jeito, o povão, ávido por palavras de vida eterna, não se estimula a seguir o play boy que foi crucificado. Urge a necessidade de novos questionadores, de seguidores - anunciadores da boa nova, que comunguem com a vida do povo e que, acima de tudo, personifiquem a imagem de Jesus do meio popular, simples, pobre, mas engajado na luta dos pobres por justiça...
Artigo enviado por Carlos Jardel (Leigo)
Artigo enviado por Carlos Jardel (Leigo)