No dia 14 de junho de 2008, escrevi um texto no blog, que fala da saudade, dos bons papos e de uma pessoa muito querida, que faz muita falta até hoje. Falo do grande escritor camocinense, Carlos Cardeal, um amigo de fé, que sempre me trouxe muita alegria e paz. Ontem (04), recebi uma mensagem de sua sobrinha, Marina Chaves, via face, dizendo que tinha ficado emocionada ao ler o texto. Bom, decidi republicar hoje o que escrevi em homenagem mais uma vez ao grande Cardeal e já fazendo uma pequena retrospectiva do blog, já que no próximo 04 de junho, ele estará completando 4 anos de existência.
ESQUINAS DA SAUDADE
O progresso é muito importante para qualquer cidade, traz inúmeros benefícios, isso não podemos negar; por outro lado, tira-nos um pouco o aspecto romântico da vida, momentos simples, mas marcantes de uma cidade como Camocim. A rapidez como as coisas acontecem hoje, o poder e velocidade das informações e o ritmo acelerado do dia a dia já chegaram a nossa cidade. São poucos os locais em que podemos sentar e, por alguns momentos, ter um dedo de prosa tradicional entre amigos, aqueles que conhecem você desde criança, que sabem de seu caráter, que podem brincar, discordar sem ser deselegantes, que têm posições antagônicas às suas, mas que respeitam suas opiniões. Esses encontros, com papos sem compromisso, estão cada vez mais raros em Camocim. Como era bom ter a companhia de Carlos Cardeal para um bom papo desses, a sua ironia refinada, o riso fácil, as críticas ácidas, mas relevantes, o jeito moleque de comentar fatos por ele testemunhados. Quando ele surgia de longe com um papel na mão, era 'batata', ali vinha um manuscrito de alguma marmota que ele presenciou e resolveu transformar em texto. Várias vezes li os manuscritos de Cardeal rindo do começo ao fim, muitos desses não foram parar nos livros dele, eram textos sobre os quais ele dizia: “Tadeu, dessa vez me expulsam da cidade”. Pessoas como Cardeal tinham seu mundo.
A perspectiva dele com relação aos fatos e pessoas era algo ímpar, ninguém pensava igual. Cansei de vê-lo em eventos de nossa cidade atento a discursos, atento ao ambiente em si. Naquele momento, nós estávamos sendo matéria-prima para o artista. Qualquer fato inusitado ou frase de efeito ali citada virava arte na mente privilegiada dele e , quando isso ocorria, ele vinha de mansinho por trás da minha câmera e dizia: “Essa eu anotei Tadeu, vai pro papel amanhã cedo”. Ele dizia isso com um prazer, como se fosse uma missão cumprida. Pouco interessava a ele quem propiciou esse estalo literário, isso era automático. Nunca conheci alguém tão modesto, era impagável um diálogo com Cardeal após fazermos parte de algum evento na cidade, solenidade ou algo desse tipo. A esquina da casa de minha mãe sente falta do espectador de procissões mais ilustre e assíduo que tivemos. Era bonito de se ver meu pai e ele nesses momentos. Depois restou somente Cardeal e, agora, somente a esquina... Saudades.
Texto republicado por Tadeu Nogueira às 09:37h de 05/02/2012