COSTUMES DE UM POVO
(Neusa Setúbal)
Observando o atual “bafafá” político, recordo-me
de minha infância, em que os “cara- preta” e os “fundo-mole” disputavam
eleições e cada família tomava partido de um lado ou de outro intitulando-se
“eu sou é cara-preta” ou “eu sou é fundo-mole”. Hoje, a nomenclatura mudou e as
pessoas ou são “onze” ou são “quarenta”. As famílias não são mais unânimes e
cada membro opta por um dos lados e levanta sua bandeira nas caminhadas, que
são verdadeiras micaretas políticas.
Pessoas discutem nas ruas, vizinhos ficam
“intrigados”, gangues se aproveitam do momento para resolver suas questões. Passando
pelas ruas das cidades vejo crianças brincando nas calçadas, vestindo cores e
cantando músicas de seus partidos, divertindo-se como se fossem brincadeiras
infantis, enquanto os adultos apreciam este verdadeiro “louvor” aos políticos,
que vem ultrapassando gerações. Nas ruas, carros de som e paredões a todo o
momento nos lembram do embate político, anunciando “reuniões” e gravando em
nossas mentes os números que não podem ser esquecidos.
Em todos os lugares da
cidade a “febre política” se instala, modificando a vida das pessoas. Nos
palanques, além de promessas, sobram insultos, que são aplaudidos pelos
ouvintes como se fossem orações divinas. Assim, vai chegando a grande hora: o
momento em que, para uns, sonhos se dissipam e esperanças se vão... O instante
em que se abrem expectativas para outros...
Nesse instante passamos para uma
nova fase. Aquela em que muitos pretendem esconder-se para não ouvir a “chacota”
dos adversários. A comemoração vai longe. Nos dias seguintes, o povo especula
sobre o que acontecerá nos próximos anos, surgem elogios, surgem críticas. Nas
ruas, nas calçadas, nas escolas, em todo lugar. E, aos poucos, a vida vai
voltando ao normal para em quatro anos recomeçar tudo novamente em
Camocim, a cidade onde nasci.
Artigo enviado pela Professora Neusa Setúbal