quarta-feira, 4 de setembro de 2013

SOBRE CAMOCIM...

Convite feito, convite aceito. Fechamos parceria, agora de forma ainda mais atuante, com um dos maiores Historiadores do Estado do Ceará, o Camocinense Carlos Augusto Pereira dos Santos, para escrever semanalmente a Coluna "Sobre Camocim...", onde ele vai apresentar ao mundo, fatos e curiosidades históricas sobre Camocim, desde sua fundação. Segue abaixo seu primeiro texto:

Inicialmente gostaria de agradecer o convite do blogueiro Tadeu Nogueira para fazer parte do cast de cronistas do Camocim Online. Ao tempo em que me esforçarei para honrar a deferência, espero utilizar esse espaço para fazer as devidas considerações sobre a história de nosso lugar, analisando fatos pretéritos e contemporâneos, às vezes guardando íntimas relações, proporcionando o entendimento dos mesmos.
Feitos estes considerandos, passo a adentrar no tema. Recentemente, com toda a polêmica envolvendo as declarações do advogado Marcos Coelho com relação à Câmara Municipal de Camocim, ofendendo (ao meu ver) as profissionais do sexo indiretamente e aos edis que descumpriram os acordos da camarilha política, diretamente, não pude deixar de pensar nas mulheres que militam na profissão mais antiga do mundo.
Entendo perfeitamente quem rebate as comparações do trepidante causídico, notadamente as vereadoras, pelas convenções sociais óbvias. Contudo, ironia da história – no extinto e mais famoso cabaré que se tem notícia na história de Camocim – o Terra e Mar,  algo além do que as prostitutas em profusão chamava a atenção, como nos deixou escrito Carlos Cardeal em romance de título homônimo:(...) Acima das prateleiras, estava gravada na parede branca, com letras pretas a célebre frase shakespeariana retirada do monólogo de Hamlet: To be or not to be, that is the question”. Logo abaixo, a tradução em letras não menos legíveis, mas de menor tamanho, “ser ou não ser, eis a questão”.
Logo comecei a pensar na importância dessas mulheres para a economia local, ocupando espaços na cidade, criando uma cuja zona do baixo meretrício que ia desde a Rua do Macedo (final da atual Santos Dumont) passando pela Marechal Deodoro, subindo a General Sampaio até o encontro com a Marechal Floriano, formando uma espécie de “U” se constituindo numa geografia do prazer.
Essa ambiência da prostituição é recuperada no romance de Carlos Cardeal. As prostitutas chegavam por trem e faziam a vida na zona, “aliviando” a dureza da lida no mar dos marinheiros ocasionais e aventureiros que por aqui aportavam. Na narrativa romanesca, ponteada de ficção, mas, agregando muitos aspectos reais e históricos, os lugares e as festas são descritos com riqueza de detalhes. A protagonista do romance é a prostituta Rita.
Com a decadência do porto e o fechamento da ferrovia essa prostituição muda de feição e de lugar, mas não posso deixar de pensar no que se tornou o prédio da Estação Ferroviária até meados da década de 1980. Famosa ficou aquela senhora que recebia os clientes nos escombros das Oficinas, cujo nome era incendiário. Das minhas próprias lembranças, onde andará aquela moça que atendia no Cabaré do Kátia, importada da Parnaíba e que iniciou alguns rapazes da minha geração?
Esse tempo não está apenas na memória, mas também já virou história na monografia de conclusão do Curso de História da UVA de Petrilia Paulini Pereira Sales com o título: “O Terra de Mar: uma história do profano em Camocim-CE. 1940-1980. 
Rapariga pode não ser um bom nome para se imputar (sem trocadilho) a outrem. No entanto, é preciso dizer que elas são sujeitos da sua própria história, votam e podem ser votadas.
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Historiador
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