terça-feira, 10 de setembro de 2013

SOBRE CAMOCIM...E CACIMBAS

Atendendo o pedido de um leitor em comentário ao nosso texto de estreia no Camocim Online, vamos falar hoje sobre as cacimbas na história da cidade. Não sou tão velho assim, mas as cacimbas até bem pouco tempo atrás faziam parte do nosso cotidiano. Para sempre se perderam as conversas e outros tipos de relações que esses encontros no pé da cacimba proporcionava. 
Com a modernidade e com as novas exigências no campo da saúde e da higiene, ter água tratada por um sistema de abastecimento passou a ser imperativo para cidades do porte de Camocim. Com a chegada da água encanada, as cacimbas foram perdendo espaço nos quintais das casas, sendo demolidas e aterradas, à medida que as casas iam adquirindo o serviço do SAAE. 
Minha primeira relação com uma delas foi a que existia na casa do Sr. José Guilherme (pai dos amigos Olivar e Ozenard). A boca era tão alta que eu, garoto de sete, oito anos de idade, tinha que ficar nas pontas dos pés para alcançar o balde. Depois mudamos para a Rua 24 de Maio (Rua do Egito). Na casa que meu pai comprara tinha uma cacimba menor, que no inverno de 1974 encheu até à boca, jorrando água para fora. Nessa cacimba tinha uma bomba manual que facilitava o serviço de tirar água. 
Nos invernos "fracos", lembro que foi a cacimba do Sr. Mário Monteiro, na General Tibúrcio que salvou muita gente das redondezas. Se retrocedermos na história, as cacimbas tiveram importância capital para aliviar os rigores das secas. Teve uma "cacimba do padre", que os registros dizem ter sido localizada por detrás da Igreja Matriz. Na Praça Pinto Martins, uma cacimba servia a quem se utilizava do Mercado Público e era um dos poucos bens que a municipalidade registrava no final do século XIX. 
Acho que ainda hoje ela deve estar camuflada entre os quiosques da referida praça. No pátio da Estação Ferroviária um grande cacimbão quase em frente da nossa casa da Rua do Egito, era o local preferido dos jovens das ruas próximas todas as tardes, que escalavam a grande boca e pulavam de cabeça desafiando o perigo que representava os trilhos jogados lá dentro, segundo diziam. Com o tempo, animais mortos e lixo foram sendo jogados nesse local tornando impraticável esse divertimento. Contudo, lembro que um jovem desavisado, empolgado com as peripécias do amor, achou de namorar justamente na boca desse cacimbão e, não se sabe como, acabou caindo nele com a jovem parceira a tiracolo. Foram socorridos pelos moradores em plena madrugada.  A partir daí passou a ser chamado de outra forma, carregando para sempre o "Cacimba" no nome.
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Historiador
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