Atendendo o pedido de um leitor em comentário ao
nosso texto de estreia no Camocim Online, vamos falar hoje sobre as cacimbas na
história da cidade. Não sou tão velho assim, mas as cacimbas até bem pouco
tempo atrás faziam parte do nosso cotidiano. Para sempre se perderam as
conversas e outros tipos de relações que esses encontros no pé da cacimba
proporcionava.
Com a modernidade e com as novas exigências no campo da saúde e
da higiene, ter água tratada por um sistema de abastecimento passou a ser
imperativo para cidades do porte de Camocim. Com a chegada da água encanada, as
cacimbas foram perdendo espaço nos quintais das casas, sendo demolidas e
aterradas, à medida que as casas iam adquirindo o serviço do SAAE.
Minha
primeira relação com uma delas foi a que existia na casa do Sr. José Guilherme
(pai dos amigos Olivar e Ozenard). A boca era tão alta que eu, garoto de sete, oito anos de idade, tinha que ficar nas pontas dos pés para alcançar o balde.
Depois mudamos para a Rua 24 de Maio (Rua do Egito). Na casa que meu pai
comprara tinha uma cacimba menor, que no inverno de 1974 encheu até à boca, jorrando água para fora. Nessa cacimba tinha uma bomba manual que facilitava o
serviço de tirar água.
Nos invernos "fracos", lembro que foi a cacimba do
Sr. Mário Monteiro, na General Tibúrcio que salvou muita gente das redondezas.
Se retrocedermos na história, as cacimbas tiveram importância capital para
aliviar os rigores das secas. Teve uma "cacimba do padre", que os
registros dizem ter sido localizada por detrás da Igreja Matriz. Na Praça Pinto
Martins, uma cacimba servia a quem se utilizava do Mercado Público e era um dos
poucos bens que a municipalidade registrava no final do século XIX.
Acho que
ainda hoje ela deve estar camuflada entre os quiosques da referida praça. No
pátio da Estação Ferroviária um grande cacimbão quase em frente da nossa casa
da Rua do Egito, era o local preferido dos jovens das ruas próximas todas as
tardes, que escalavam a grande boca e pulavam de cabeça desafiando o perigo que
representava os trilhos jogados lá dentro, segundo diziam. Com o tempo, animais
mortos e lixo foram sendo jogados nesse local tornando impraticável esse
divertimento. Contudo, lembro que um jovem desavisado, empolgado com as
peripécias do amor, achou de namorar justamente na boca desse cacimbão e, não
se sabe como, acabou caindo nele com a jovem parceira a tiracolo. Foram
socorridos pelos moradores em plena madrugada.
A partir daí passou a ser chamado de outra forma, carregando para sempre
o "Cacimba" no nome.
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Historiador
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