Cada vez que retorno a Camocim, alegrias e
tristezas são sempre renovadas. Alegrias por renovar o ar dos pulmões de
intensa maresia e me inteirar do cotidiano da cidade nas rodas de conversas.
Tristezas por encontrar, além da mediocridade habitual dos fanáticos nestas
mesmas rodas, nosso patrimônio de pedra e cal sendo tombado literalmente.
Desta vez, o antigo Hotel da Ambrosina e a Mercearia Serrote (que outrora foi
sede de um banco) estão vindo abaixo pela especulação imobiliária, esta mesma
que já transformou em pó boa parte da memória arquitetônica de nossa cidade. Tal
qual o ”Mato Grosso e o Joca” da música, por alguns minutos fiquei a
testemunhar um operário com sua marreta, pôr tijolos ao chão.
Já falei em alguns
outros espaços e neste blog, sobre a importância de se preservar estes
monumentos. O Município tem meios para isso e não precisa ficar esperando a
ação do IPHAN. Em Camocim, enquanto prédios, só temos a Estação Ferroviária
tombada pela patrimônio estadual e mesmo assim já foram feitas intervenções internas que beiram o ridículo.
No próprio Código de Posturas e no Plano Diretor existem a possibilidade de se
criar um conselho municipal onde pessoas de conhecimento sobre a questão podem
definir áreas a serem preservadas.
Qual a motivação de não se fazer isso?
Talvez seja a falta da tal “vontade política”, ou mesmo desinformação. Outro
dia conversando com a arquiteta Silvana Valente ela me falou de sua luta junto
aos gestores quando fez parte da administração municipal, para que esse conselho
fosse efetivado. Falo isso porque sinto que o núcleo histórico da cidade está
perdendo espaço para essa tal especulação, notadamente o entorno da Estação
Ferroviária e adjacências. Preservar não é engessar o espaço; é dar-lhe um novo
uso recuperando a história passada. Fico imaginando o quanto não seria
interessante se este entorno pudesse ser apropriado para se criar equipamentos
de cultura, entretenimento e lazer. A Empresa de Algodão (foto) poderia ser um
cine-teatro, os armazéns em volta poderiam se transformar em restaurante-escola,
um museu. O Casa dos Engenheiros que já é a sede da Academia Camocinense de
Artes e Letras (ACCAL), poderia incorporar um Café Literário e uma livraria,
enfim, equipamentos que dinamizariam a vida cultural da cidade em consonância
com a atividade turística. Ideias não faltam... o que falta é esta tal vontade!
São nossos sonhos... enquanto não podemos ter outra coisa!
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Historiador
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