terça-feira, 24 de setembro de 2013

SOBRE CAMOCIM...E PRESERVAÇÃO HISTÓRICA

Cada vez que retorno a Camocim, alegrias e tristezas são sempre renovadas. Alegrias por renovar o ar dos pulmões de intensa maresia e me inteirar do cotidiano da cidade nas rodas de conversas. Tristezas por encontrar, além da mediocridade habitual dos fanáticos nestas mesmas rodas, nosso patrimônio de pedra e cal sendo tombado literalmente. Desta vez, o antigo Hotel da Ambrosina e a Mercearia Serrote (que outrora foi sede de um banco) estão vindo abaixo pela especulação imobiliária, esta mesma que já transformou em pó boa parte da memória arquitetônica de nossa cidade. Tal qual o ”Mato Grosso e o Joca” da música, por alguns minutos fiquei a testemunhar um operário com sua marreta, pôr tijolos ao chão. 
Já falei em alguns outros espaços e neste blog, sobre a importância de se preservar estes monumentos. O Município tem meios para isso e não precisa ficar esperando a ação do IPHAN. Em Camocim, enquanto prédios, só temos a Estação Ferroviária tombada pela patrimônio estadual e mesmo assim já foram feitas  intervenções internas que beiram o ridículo. No próprio Código de Posturas e no Plano Diretor existem a possibilidade de se criar um conselho municipal onde pessoas de conhecimento sobre a questão podem definir áreas a serem preservadas. 
Qual a motivação de não se fazer isso? Talvez seja a falta da tal “vontade política”, ou mesmo desinformação. Outro dia conversando com a arquiteta Silvana Valente ela me falou de sua luta junto aos gestores quando fez parte da administração municipal, para que esse conselho fosse efetivado. Falo isso porque sinto que o núcleo histórico da cidade está perdendo espaço para essa tal especulação, notadamente o entorno da Estação Ferroviária e adjacências. Preservar não é engessar o espaço; é dar-lhe um novo uso recuperando a história passada. Fico imaginando o quanto não seria interessante se este entorno pudesse ser apropriado para se criar equipamentos de cultura, entretenimento e lazer. A Empresa de Algodão (foto) poderia ser um cine-teatro, os armazéns em volta poderiam se transformar em restaurante-escola, um museu. O Casa dos Engenheiros que já é a sede da Academia Camocinense de Artes e Letras (ACCAL), poderia incorporar um Café Literário e uma livraria, enfim, equipamentos que dinamizariam a vida cultural da cidade em consonância com a atividade turística. Ideias não faltam... o que falta é esta tal vontade! São nossos sonhos... enquanto não podemos ter outra coisa!
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Historiador
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