Hoje se celebra o Dia da Consciência Negra no país. Em muitos aspectos, infelizmente, não há muito o que comemorar. O dia poderia ser tirado mais para avaliação de várias constatações negativas. Para se ter uma ideia de uma delas, o simples fato de uma criança nascer preta ou parda no Ceará implica a
ela dois anos a menos de expectativa de vida. Uma maior exposição a
assassinatos, acidentes de trânsito, suicídios e outras formas de
violência leva a isso. Algo ainda mais crônico se considerado apenas o
universo masculino, onde a vida recua 3,6 anos (16º maior do País).
Entre mulheres, a redução é de 0,54 ano (22º maior). Os dados constam na
nota técnica “Vidas perdidas e o racismo no Brasil”, divulgada ontem
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base no Censo
2010.
Cidadãos brancos, indígenas e amarelos também sofrem com as chamadas
“mortes violentas”. Mas numa proporção menor. No caso dos homens
não-negros, a expectativa de vida diminui 1,83 ano (metade do índice dos
negros e 17º maior). No das mulheres não-negras, a queda é de 041 (21º
maior).
A estatística do Ceará é pior do que a nacional no
tocante aos homens negros. Mas o cenário como um todo preocupa. Por ser
fruto de uma discriminação secular. “Vivemos num país marcado, sim, pelo
racismo. Ser negro sempre foi desvantajoso porque significava atraso
para a elite. O negro sempre foi considerado ‘chinfrim’. Isso deságua em
desigualdades raciais”, diz a coordenadora do Laboratório de Estudos e
Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (Nuafro/Uece), Zelma
Madeira.
Para ela e o mestre em história e militante do grupo
Consciência Negra em Movimento, Hilário Sobrinho, é preciso assegurar o
acesso da população negra ao ensino, capacitação e mercado de trabalho. A
precarização (histórica e permanente) dessa tríade favorece o
envolvimento em ações delituosas, nas quais negros são sujeitos e
vítimas.
Algo que, atrelado a mais de meio século de negação
de outros direitos básicos (saúde, lazer, moradia, saneamento etc),
torna ainda mais os negros vulneráveis à violência. “Há todo um
estereótipo de que todo jovem negro é um marginal em potencial. Mas não
existe uma política pública de desmilitarizar a Polícia dentro da
periferia, onde estão muitos negros. Lá, a Polícia só chega com
violência. Sei que na periferia existe o tráfico. Mas nem todo mundo é
traficante. A violência do racismo no Brasil é muito forte”, frisa
Sobrinho.
Melhorias? Só a médio e longo prazo, com a injeção
de mais negros capacitados no mercado, acredita o coordenador de
Políticas Públicas para a promoção da Igualdade Racial do Governo do
Estado, Ivaldo Paixão. “Está havendo matança da juventude negra. E, na
questão do trabalho, os negros ainda estão na base da pirâmide. Têm os
menores salários.”
Postado por Tadeu Nogueira às 21:00h
Com informações do Jornal O Povo