terça-feira, 26 de novembro de 2013

SOBRE CAMOCIM...E SEU TIRO DE GUERRA

Inspirado nas constantes postagens sobre o Tiro de Guerra de Camocim 10.001, fruto da parceria entre o Camocim Online e esta instituição que traduz bem uma certa tradição “verde-oliva”  em nosso município, resolvi escrever a coluna desta terça trazendo algumas curiosidades: 
Você sabia que já existiu um Tiro de Guerra Infantil em nossa cidade? Pois é, fundado em 1º de Janeiro de 1912, ele existiu e foi fruto da iniciativa do Sr. Júlio Cícero Monteiro, jornalista, intelectual e vereador local. O fato foi saudado na imprensa local (é, neste tempo tinha jornal em Camocim!). O jornal “A Palavra”, que trazia no seu dístico a expressão: "O jornal é o livro  do povo", assim noticiou o acontecimento (respeitando a grafia da época):
[...]  Assim sendo é justo que todos os srs.paes de família acolham-na de braços abertos, mandando seus filhinhos-rebentos de esperança da Pátria se aliarem as suas fileiras. Isto, sobre ser de grande importância para os pequenos, porque já se habilitam ao manejo das armas vão se encaminhando no verdadeiro civismo, é de alta significação para a Pátria, porquanto no dia em que todo brasileiro souber desparar(sic) conscientemente uma arma de fogo qualquer, teremos integralisada a paz e, portanto, assegurada a estabilidade e o progresso das ubertosas plagas descobertas por Cabral. (A Palavra. Actualidade”. Camocim, 6 de janeiro de 1912, Anno VIII, nº 15, p.1. Camocim-CE).
Outra curiosidade é que nosso TG, antes de ter a numeração 10001, foi 250. Afora a classificação numérica do Exército, o TG de outrora funcionou no prédio onde fora a Farmácia do Ananias, hoje Farmácia Santa Branca. Nos meus tempos de adolescente, já com a numeração atual, via os recrutas em exercícios de rua defronte à sua sede onde hoje se situa o Colégio Georgina Leitão Macêdo, de onde saiu para sua sede própria.
Como ilustração dos velhos tempos, trazemos um documento que nos diz muito, para além de uma simples lembrança da realização de uma páscoa para os jovens recrutas camocinenses do ano de 1963. Tal documento escancara o clima de beligerância daqueles tempos entre a Igreja e o Estado contra os "inimigos da pátria", entendendo-se por isso, principalmente os que se denominavam ou se denunciavam como "subversivos", "comunistas", "socialistas", "anarquistas", dentre outras denominações. Transcrevemos a frase do referido documento: 
"Nascido ao calor da missa, o Brasil espera que a nossa fé católica, que expulsou os invasores da Pátria, seja sempre a fôrca e o segredo de nosso patriotismo".  
O detalhe é que a comemoração pascal deu-se quase um ano antes do fatídico Golpe Civil-Militar de 1º de Abril de 1964. Por outro lado, o documento revela o que eu não sabia - que o prefeito da cidade é o diretor do TG, como na época o foi João Batista Rocha Aguiar.  
Essa tradição, portanto, corrobora a presença em nossa cidade do Tiro de Guerra, de também já ter sido estudada para a instalação de um Batalhão do Exército Brasileiro (posteriormente sediado em Crateús), além de ter vários de seus filhos chegado aos mais altos postos desta força armada. Hoje a presença militar em Camocim se faz pela sede do 3ª Companhia do 3º Batalhão da Polícia Militar, do Tiro de Guerra 10.001 e da representação da Marinha do Brasil com a Capitania dos Portos.
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Historiador
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Fonte: Arquivo da Família Morel . Documento cedido gentilmente através do Prof. Paulo José