Neste espaço já retratamos antigos nomes de
espaços e logradouros de Camocim. No entanto, como prometemos anteriormente,
iremos explorar um pouco mais a obra “Adolescência na Selva”, do camocinense
Souza Lima. Alguns destes nomes nos soam familiares porque transmitidos pela
tradição oral, outros nem tanto. Aí é que está a importância de um escrito como
este, datado do início do século XX, quando ainda éramos uma cidadezinha
nascente, na transição de distrito da Barra do Camocim ligado à Granja. Os
maiores de sessenta anos, com certeza se acharão e se identificarão com estes
nomes.
Deste modo, quando o autor rememora a perda do
salário semanal de seu pai, funcionário da Estrada de Ferro, registra: “... ao
atravessar o Largo Velho, já na esquina do Coronel Severiano José de Carvalho,
ao meter a mão no bolso, sentiu que o dinheiro que havia recebido naquele
sábado não estava mais ali” (p.16). Ao falar sobre um touro indomável e faminto
que corria a cidade sem rumo, diz da sua localização quando o bovino parecia
lhe ameaçar: “Eu estava perto do Trapiche Pernambucano, onde os navios pegavam
gado, quando havia inverno”. Finaliza dizendo sobre o fim trágico do animal: “E
o touro negro, alguns dias depois, foi encontrado morto lá para os lados do Quadro
Velho...” (p.24-5). Ao noticiar um crime hediondo contra a família de Francisco
Nelson Chaves, do qual veio a falecer o mesmo e sua esposa, o autor nos
transporta para as origens do primeiro bairro de Camocim – o Cruzeiro, onde
morava o criminoso Joaquim Pacífico de Oliveira: “Socaram-se ali no Largo da
Cruz do Século. Compraram aqueles terrenos por um tostão de mel coado” (p.48).
Das brincadeiras de menino, nosso escritor descreve a do Judas: “Quando o sino
das Oficinas bateu duas badaladas bem compassadas, o mano levantou-se
devagarinho com o Judas no ombro...”. O
tal Judas seria roubado por outros rapazes camocinenses que estudavam na
capital. Na descrição do roubo, um “caminho” entre a Rua do Egito e a Rua do
Sol é revelado: “... uma gritaria se ouvia para o lado do Bêco do João Vital, -
eram os alunos do Colégio Militar que vinham numa algazarra enorme, arrastando
o Judas para defronte de nossa casa, para fazerem pouco de nós”. (p.67-8).
Feito este mergulho no tempo, lembro-me de
quando era menino na Rua do Egito a partir do final dos anos 1970. O sino das
Oficinas não soavam mais e o Beco do João Vital já tinha sido tapado. E você,
do que se lembra?
Carlos Augusto Pereira dos Santos
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