Escrevi
este texto num domingo qualquer... É que as memórias domingueiras irremediavelmente
me transportam para este dia dedicado a ir ao Mercado Público em priscas eras com
meu pai. Além do prazer de desfilar com o "velho" pelas várias bancas, aquela
sempre era uma oportunidade de "merendar" algo fora do trivial do que
era servido em casa. No meu horizonte de guloseimas, duas se divisavam de
acordo com a escolha do meu pai: um copo (americano dos grandes) de refresco de
maracujá (que à época se dizia "peroba") ou uma tigela de "Chá
de Burro" com cuscuz de milho ou arroz. Confesso que pro meu apetite de
meninote não fazia ainda diferença. Depois de crescido, a ponto de já ir ao
mercado sozinho e fazer as compras do dia, a inclinação pelo chá de burro foi
se consolidando.
O "quarto" (era assim que se chamava os pontos
comerciais) onde se vendia os refrescos não existe mais, contudo, o chá de
burro ainda resiste como iguaria feita à base de milho, arroz, leite e canela,
uma derivação do mugunzá que caiu no gosto do camocinense a ponto de rivalizar
em termos de identidade com o peixe Coró, outrora muito abundante em nosso Rio
Coreaú (que os mais velhos chamavam Rio da Cruz). O chá de burro, portanto, para muitos é
a comida inicial do dia. Seja para os feirantes que iniciam mais uma jornada,
seja para os que "viram" a noite em farras e outras folias, ou mesmo
para quem já quer começar o dia bem alimentado. Como disse anteriormente, o chá
de burro virou marca registrada da culinária camocinense a ponto de ser uma
referência cultural de quem mora em Camocim ou de quem parte para outros
lugares.
Por outro lado, para quem chega de fora, logo lhe é apresentado como
parte de nosso cabedal culinário e passa a fazer parte do universo de
lembranças destes visitantes. Basta dar uma breve olhada nas redes sociais para
se constatar isso. Pessoas distantes perguntando pelo chá de burro, cronistas
locais fazendo-lhe loas, citado nos diários de viagens de turistas ocasionais,
inclusive até um blog local leva seu nome. Diante destas observações sugiro que
se possa abrir um processo de tombamento junto ao IPHAN, do Chá de Burro como
bem imaterial do patrimônio cultural de Camocim.
Carlos Augusto Pereira dos Santos
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