quinta-feira, 15 de maio de 2014

PERUANDO...COM RAPHAEL DIEVOS

COMBATENDO A VIOLÊNCIA 
E APOSTANDO NO SOCIAL 
Saudações desde os Andes, estimados leitores. Hoje vamos falar um pouco sobre como o Peru conseguiu expulsar o terrorismo que assolava o país até meados de 1991, e como os índices de delinquência caíram drasticamente tornando Lima, uma cidade de aproximadamente 8 milhões de pessoas, em uma das mais seguras da América Latina junto a Santiago do Chile e Montevidéu, no Uruguai. Bem, há mais de 15 anos a “Terra dos Incas” tem experimentando um crescimento econômico sem precedentes, o que de fato atraiu mais empresas estrangeiras, sobretudo as asiáticas, do ramo automobilístico, e de produtos primários. Essa “atração fatal” foi proporcionada não somente pelo clima de seguridade econômica como também pelo varrimento dos grupos “Sendero Luminoso” e “Tupac Amaru”, extensões terroristas que dominavam paralelamente todo o território, propagando uma verdadeira onda de violência. 
O governo peruano foi extremamente radical, implementando políticas na captura dos líderes das células criminosas e a prisão em presídios de segurança máxima dos “chefes maiores” de ambas as facções. Com todos os integrantes enclausurados, as resistências menores foram desfeitas facilmente. Inicialmente o exército patrulhava as ruas, posteriormente criaram a guarda nacional, depois a polícia distrital (já que Lima não tem um único prefeito e é subdividido em distritos, como se fossem bairros). Cada distrito tem seu prefeito, sua própria arrecadação e seu sistema de seguridade e vigilância próprias. Essa descentralização “descongestionou” o poder público que passou a atuar de forma mais eficiente e conjunta. Hoje, além da guarda nacional, policial distrital há o “Serenazgo” (uma espécie de ronda do quarteirão, só que mais completa) e a delinquência que outrora era generalizada passou a ser localizada e somada às áreas mais periféricas. 
Políticas de incentivo à prática de esportes e atividades culturais foram estimuladas, além do amplo apoio que o governo oferece para que os jovens ingressem as universidades com que chamamos de recategorização (que falaremos em outro post), bolsas de estudo e crédito educativo (parecido com o nosso FIES) foram em médio prazo eficazes para desfazer a cultura do ócio que antes existia, além do que, a prática ostensiva do comércio, que aqui em muitos casos funciona livremente até aos domingos. É muito fácil você caminhar pelos parques distritais que além de muito verdes e limpos tem espaços públicos para você fazer seus exercícios aeróbicos ou para hipertrofiar com aparelhos idênticos aos das academias fitness, tudo de graça e à disposição dos populares, além de bem conservados (aqui o povo é ensinado desde sempre à preservar os espaços públicos, caso contrário a aplicação de multa é uma forma mais coercitiva de regular essa conservação). 
Pois bem, se o Peru, com todas as suas limitações foi capaz de expulsar o terrorismo de seu contexto social com políticas que não só fizeram este ser desintegrado, como produziram indicadores positivos para o crescimento da sua economia e bem estar social, o Brasil como toda sua grandiosidade quer seja continental como econômica poderia fazer o mesmo. A violência aqui não foi banida, há assaltos, mortes, sequestros e toda aquela gama social de problemas que envolvem uma grande cidade, porém, se comparado à realidade de grandes metrópoles mundiais e ao número de seus habitantes, Lima, por exemplo, chega a ser menos violenta que a cidade de Juazeiro da Bahia, que sequer chega a ter seus 600 mil habitantes. Temos coisas singulares em nosso país, mas o exemplo peruano nesse sentido deveria (deve) ser de longe adaptado para nossa realidade, afinal, quando os serviços funcionam, o ócio entre os jovens diminui se há trabalho para a maioria, as amostragens sociais melhoram e por consequência o contexto de risco também diminui. No próximo post direi o motivo que me levou a fazer medicina no Peru, quais são as vantagens e desvantagens, e falarei também como funciona a saúde aqui. 
Hasta la vista
Raphael Dievos ( De Lima, no peru)