COMBATENDO A VIOLÊNCIA
E APOSTANDO NO SOCIAL
Saudações desde os Andes, estimados leitores. Hoje
vamos falar um pouco sobre como o Peru conseguiu expulsar o terrorismo que
assolava o país até meados de 1991, e como os índices de delinquência caíram
drasticamente tornando Lima, uma cidade de aproximadamente 8 milhões de pessoas,
em uma das mais seguras da América Latina junto a Santiago do Chile e Montevidéu,
no Uruguai. Bem, há mais de 15 anos a “Terra dos Incas” tem experimentando um
crescimento econômico sem precedentes, o que de fato atraiu mais empresas
estrangeiras, sobretudo as asiáticas, do ramo automobilístico, e de produtos
primários. Essa “atração fatal” foi proporcionada não somente pelo clima de
seguridade econômica como também pelo varrimento dos grupos “Sendero Luminoso”
e “Tupac Amaru”, extensões terroristas que dominavam paralelamente todo o território,
propagando uma verdadeira onda de violência.
O governo peruano foi extremamente
radical, implementando políticas na captura dos líderes das células criminosas
e a prisão em presídios de segurança máxima dos “chefes maiores” de ambas as facções.
Com todos os integrantes enclausurados, as resistências menores foram desfeitas
facilmente. Inicialmente o exército patrulhava as ruas, posteriormente criaram
a guarda nacional, depois a polícia distrital (já que Lima não tem um único
prefeito e é subdividido em distritos, como se fossem bairros). Cada distrito
tem seu prefeito, sua própria arrecadação e seu sistema de seguridade e
vigilância próprias. Essa descentralização “descongestionou” o poder público
que passou a atuar de forma mais eficiente e conjunta. Hoje, além da guarda
nacional, policial distrital há o “Serenazgo” (uma espécie de ronda do quarteirão,
só que mais completa) e a delinquência que outrora era generalizada passou a
ser localizada e somada às áreas mais periféricas.
Políticas de incentivo à
prática de esportes e atividades culturais foram estimuladas, além do amplo
apoio que o governo oferece para que os jovens ingressem as universidades com
que chamamos de recategorização (que falaremos em outro post), bolsas de estudo
e crédito educativo (parecido com o nosso FIES) foram em médio prazo eficazes
para desfazer a cultura do ócio que antes existia, além do que, a prática ostensiva
do comércio, que aqui em muitos casos funciona livremente até aos domingos. É muito
fácil você caminhar pelos parques distritais que além de muito verdes e limpos
tem espaços públicos para você fazer seus exercícios aeróbicos ou para
hipertrofiar com aparelhos idênticos aos das academias fitness, tudo de graça e
à disposição dos populares, além de bem conservados (aqui o povo é ensinado
desde sempre à preservar os espaços públicos, caso contrário a aplicação de
multa é uma forma mais coercitiva de regular essa conservação).
Pois bem, se o Peru, com todas as suas limitações foi capaz de expulsar o terrorismo de seu contexto social com políticas que não só fizeram este ser desintegrado, como produziram indicadores positivos para o crescimento da sua economia e bem estar social, o Brasil como toda sua grandiosidade quer seja continental como econômica poderia fazer o mesmo. A violência aqui não foi banida, há assaltos, mortes, sequestros e toda aquela gama social de problemas que envolvem uma grande cidade, porém, se comparado à realidade de grandes metrópoles mundiais e ao número de seus habitantes, Lima, por exemplo, chega a ser menos violenta que a cidade de Juazeiro da Bahia, que sequer chega a ter seus 600 mil habitantes. Temos coisas singulares em nosso país, mas o exemplo peruano nesse sentido deveria (deve) ser de longe adaptado para nossa realidade, afinal, quando os serviços funcionam, o ócio entre os jovens diminui se há trabalho para a maioria, as amostragens sociais melhoram e por consequência o contexto de risco também diminui. No próximo post direi o motivo que me levou a fazer medicina no Peru, quais são as vantagens e desvantagens, e falarei também como funciona a saúde aqui.
Pois bem, se o Peru, com todas as suas limitações foi capaz de expulsar o terrorismo de seu contexto social com políticas que não só fizeram este ser desintegrado, como produziram indicadores positivos para o crescimento da sua economia e bem estar social, o Brasil como toda sua grandiosidade quer seja continental como econômica poderia fazer o mesmo. A violência aqui não foi banida, há assaltos, mortes, sequestros e toda aquela gama social de problemas que envolvem uma grande cidade, porém, se comparado à realidade de grandes metrópoles mundiais e ao número de seus habitantes, Lima, por exemplo, chega a ser menos violenta que a cidade de Juazeiro da Bahia, que sequer chega a ter seus 600 mil habitantes. Temos coisas singulares em nosso país, mas o exemplo peruano nesse sentido deveria (deve) ser de longe adaptado para nossa realidade, afinal, quando os serviços funcionam, o ócio entre os jovens diminui se há trabalho para a maioria, as amostragens sociais melhoram e por consequência o contexto de risco também diminui. No próximo post direi o motivo que me levou a fazer medicina no Peru, quais são as vantagens e desvantagens, e falarei também como funciona a saúde aqui.
Hasta la vista
Raphael Dievos ( De Lima, no peru)