Acompanhando as recentes matérias sobre as
sessões da Câmara Municipal de Camocim e os "debates" dos vereadores,
constata-se que já está se tornando comum o xingamento e a falta de decoro
entre eles com o uso de palavrões. Sinal dos tempos? Conflitos sempre existiram
nos parlamentos, contudo, isso nos parece fruto de uma profissionalização da política
atualmente, onde tudo vale para chamar a atenção dos eleitores, nesse caso, por
um viés, digamos, não muito republicano. Outra questão é a representação
política que estes vereadores pretensamente defendem em nome de algo maior que
se chama povo. Nos dias de hoje fica até difícil imaginar um
vereador vindo literalmente do povo, na figura de um trabalhador das salinas, por
exemplo, sem receber salários para comparecer às sessões e ainda ter que
justificar suas faltas às mesmas. Pois isto já aconteceu num tempo em que
a Câmara Municipal de Camocim era composta por homens (e até uma
mulher!) que, apesar de seus interesses próprios e convicções políticas
partidárias, tinham alguma ideia do que era a noção de representar a população
junto ao poder legislativo. A Sessão Ordinária de 17 de maio de 1963 nos
oferece um retrato de como era exercido os mandatos há cinquenta anos atrás.
Abaixo transcrevemos um trecho de uma ata em que
o então vereador Luiz Damião de Oliveira (ainda vivo entre nós, mais
conhecido como Seu Grude) demonstra a simplicidade do exercício do mandato, um
simples salineiro, que posteriormente foi uma liderança dos portuários,
envolvido na faina cotidiana do seu trabalho para prover a família e ainda
tendo obrigações junto ao poder legislativo. Leiamos?
14ª Sessão Ordinária –5ª Legislatura, 1º Período
Legislativo. 17 de Maio de 1963.
(...) Em seguida foi lido pelo Snr. Vereador
Luiz Damião de Oliveira o Projeto de Lei Nº 5/63, de 10/5/63, de sua autoria,
que “Autoriza o Chefe do Poder Executivo Municipal criar tornando feriado
municipal todos os dias santificados, reconhecidos e respeitados pela Igreja
Católica Apostólica Romana desta cidade”. Continuando justificou as suas faltas
de comparecimento às sessões, isto,verificou-se quando o mesmo está trabalhando
nas salinas em carregamento de vapores e não haver na ocasião das sessões
transportes para tal fim.
Para termos um panorama da composição da Câmara
naquela legislatura segue abaixo a relação:
1963 – Presidente – Amanajás
Passos de Araújo
1964/1965 – Presidente – Antonio
Marques de Almeida
1966 – Presidente – Luis Lopes
Viana
Vereadores:
Carlos Alberto Nóbrega, Gregório Francisco
Alexandrino, João Oldernes Fiúza Lima, Luis Damião de Oliveira, Maria Carmelita
Veras de Paula, Mauricio Lacerda Rêgo, Octavio de Sant' Ana, Raimundo Ferreira
de Albuquerque, Joaquim Pereira de Brito (suplente). e Valdemar Bessa
(suplente).
Prefeito: João Batista Aguiar
Vice: Setembrino Véras.
Se exercêssemos realmente o princípio da
representatividade poderíamos ter um vereador pescador, agricultor, professor,
comerciante, comerciário, estudante, empresário, mais mulheres, negros, etc..
Enquanto isso, os profissionais da política continuam mandando na política e
aqui e ali, proferindo seus palavrões no exercício do cargo...
Carlos Augusto Pereira dos Santos