terça-feira, 6 de maio de 2014

SOBRE CAMOCIM...E O VEREADOR SALINEIRO

Acompanhando as recentes matérias sobre as sessões da Câmara Municipal de Camocim e os "debates" dos vereadores, constata-se que já está se tornando comum o xingamento e a falta de decoro entre eles com o uso de palavrões. Sinal dos tempos? Conflitos sempre existiram nos parlamentos, contudo, isso nos parece fruto de uma profissionalização da política atualmente, onde tudo vale para chamar a atenção dos eleitores, nesse caso, por um viés, digamos, não muito republicano. Outra questão é a representação política que estes vereadores pretensamente defendem em nome de algo maior que se chama povo. Nos dias de hoje fica até difícil imaginar um vereador vindo literalmente do povo, na figura de um trabalhador das salinas, por exemplo, sem receber salários para comparecer às sessões e ainda ter que justificar suas faltas às mesmas. Pois  isto já aconteceu num tempo em que a Câmara Municipal de Camocim era composta por homens (e até uma mulher!) que, apesar de seus interesses próprios e convicções políticas partidárias, tinham alguma ideia do que era a noção de representar a população junto ao poder legislativo. A Sessão Ordinária de 17 de maio de 1963 nos oferece um retrato de como era exercido os mandatos há cinquenta anos atrás.
Abaixo transcrevemos um trecho de uma ata em que o então vereador Luiz Damião de Oliveira (ainda vivo entre nós, mais conhecido como Seu Grude) demonstra a simplicidade do exercício do mandato, um simples salineiro, que posteriormente foi uma liderança dos portuários, envolvido na faina cotidiana do seu trabalho para prover a família e ainda tendo obrigações junto ao poder legislativo. Leiamos?
14ª Sessão Ordinária –5ª Legislatura, 1º Período Legislativo. 17 de Maio de 1963.
(...) Em seguida foi lido pelo Snr. Vereador Luiz Damião de Oliveira o Projeto de Lei Nº 5/63, de 10/5/63, de sua autoria, que “Autoriza o Chefe do Poder Executivo Municipal criar tornando feriado municipal todos os dias santificados, reconhecidos e respeitados pela Igreja Católica Apostólica Romana desta cidade”. Continuando justificou as suas faltas de comparecimento às sessões, isto,verificou-se quando o mesmo está trabalhando nas salinas em carregamento de vapores e não haver na ocasião das sessões transportes para tal fim. 
Para termos um panorama da composição da Câmara naquela legislatura segue abaixo a relação:
1963 – Presidente – Amanajás Passos de Araújo
1964/1965 – Presidente – Antonio Marques de Almeida
1966 – Presidente – Luis Lopes Viana
Vereadores:
Carlos Alberto Nóbrega, Gregório Francisco Alexandrino, João Oldernes Fiúza Lima, Luis Damião de Oliveira, Maria Carmelita Veras de Paula, Mauricio Lacerda Rêgo, Octavio de Sant' Ana, Raimundo Ferreira de Albuquerque, Joaquim Pereira de Brito (suplente). e Valdemar Bessa (suplente).
Prefeito: João Batista Aguiar
Vice: Setembrino Véras.
Se exercêssemos realmente o princípio da representatividade poderíamos ter um vereador pescador, agricultor, professor, comerciante, comerciário, estudante, empresário, mais mulheres, negros, etc.. Enquanto isso, os profissionais da política continuam mandando na política e aqui e ali, proferindo seus palavrões no exercício do cargo...
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Historiador
Conheça o Blog do Colunista AQUI 
Fonte: Livro de Atas. Arquivo da Câmara Municipal de Camocim.