terça-feira, 16 de setembro de 2014

SOBRE CAMOCIM...E CAZUMBI

Em Kimbundu, língua nativa da Angola, Cazumbi significa um "pequeno zumbi" ou "filho de Zumbi". É nome também de uma badalada banda de rock africana. Para nós camocinenses é sinônimo de um pequeno grande homem que viveu sua simplicidade ao extremo. Ele foi um verdadeiro Mestre, pois ensinou aos jovens de Camocim, o pouco e o tudo que sabia no futebol e na música. Tenho para mim que depois que o Campo do Maguary foi loteado pela especulação imobiliária, Cazumbi começou a morrer aos poucos. Mesmo assim, fez do Campo do Tapete Verde sua segunda casa. Em 2007 fui entrevistá-lo em sua casa e o encontrei lavando o uniforme do seu time. Entre lembranças, momentos de tristeza estampados no rosto, mas também de boas  gargalhadas, passamos boa parte da manhã conversando. Na saída, uma constatação, aquele homem estava precisando de quem conversasse com ele. Em sua homenagem reproduzimos o que escrevemos naquela oportunidade e que está no nosso livro "Entre o Porto e a Estação..." a ser lançado no próximo dia 24 de setembro em Camocim:
"Antônio Pereira da Silva, o Mestre Cazumbi, além de músico, tem uma trajetória ligada ao esporte. Hoje aposentado, ainda tem fôlego para toda semana treinar jovens em campos de terra da periferia. Contemporâneo de Sebastião Marques, ele fez parte de uma geração onde se destacaram outros trabalhadores jogadores como Quebrado, Passaqui, Canoé, Expedito leitão, Zé Olhim, Linha Fina, Zé Maria, Pepeta, dentre outros. Na saudação de um cronista local, treinado em seus tempos de adolescente pelo Mestre Cazumbi, constatamos a importância de seu trabalho junto à juventude camocinense: '... foi de tudo no futebol: chegou a ser técnico da nossa seleção, com um desempenho razoável. Quem não passou pelas mãos do velho Cazumba? Acho que toda garotada teve suas primeiras noções de jogar bola com o ‘Guerreiro’. (...) mas já não tem a mesma garra de outrora, porém, continua sendo um grande exemplo de desportista para os jovens.' [1]
Mesmo no alto de seus 76 anos, quase cego e sem poder andar muito, ainda vamos encontrar o Mestre Cazumbi tocando sua tuba nos eventos religiosos e festivos da cidade. Duas ou três vezes na semana, leva seu material de treino para o campo do Tapete Verde para não deixar o time do Maguary morrer. Mesmo sem o reconhecimento e apoio das entidades esportivas locais, ele continua sendo aquele tipo de pessoa que deixou o esporte entranhar nas veias, sendo o faz-tudo do seu time: dono, treinador e roupeiro."
Ao Mestre Cazumbi, com carinho... descanse em paz! 
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Historiador
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Fonte: [1] “O Velho Cazumba”. Aradi Silva. O Literário. Ano III, Edição 18, julho de 2001, p.4. Camocim-CE.