Em Kimbundu, língua nativa da Angola, Cazumbi
significa um "pequeno zumbi" ou "filho de Zumbi". É nome
também de uma badalada banda de rock africana. Para nós camocinenses é sinônimo
de um pequeno grande homem que viveu sua simplicidade ao extremo. Ele foi um
verdadeiro Mestre, pois ensinou aos jovens de Camocim, o pouco e o tudo que
sabia no futebol e na música. Tenho para mim que depois que o Campo do Maguary
foi loteado pela especulação imobiliária, Cazumbi começou a morrer aos poucos.
Mesmo assim, fez do Campo do Tapete Verde sua segunda casa. Em 2007 fui
entrevistá-lo em sua casa e o encontrei lavando o uniforme do seu time. Entre
lembranças, momentos de tristeza estampados no rosto, mas também de boas gargalhadas, passamos boa parte da manhã
conversando. Na saída, uma constatação, aquele homem estava precisando de quem
conversasse com ele. Em sua homenagem reproduzimos o que escrevemos naquela
oportunidade e que está no nosso livro "Entre o Porto e a Estação..."
a ser lançado no próximo dia 24 de setembro em Camocim:
"Antônio Pereira da Silva, o Mestre Cazumbi,
além de músico, tem uma trajetória ligada ao esporte. Hoje aposentado, ainda
tem fôlego para toda semana treinar jovens em campos de terra da periferia.
Contemporâneo de Sebastião Marques, ele fez parte de uma geração onde se
destacaram outros trabalhadores jogadores como Quebrado, Passaqui, Canoé,
Expedito leitão, Zé Olhim, Linha Fina, Zé Maria, Pepeta, dentre outros. Na
saudação de um cronista local, treinado em seus tempos de adolescente pelo
Mestre Cazumbi, constatamos a importância de seu trabalho junto à juventude
camocinense: '... foi de tudo no futebol: chegou a ser técnico da nossa
seleção, com um desempenho razoável. Quem não passou pelas mãos do velho
Cazumba? Acho que toda garotada teve suas primeiras noções de jogar bola com o
‘Guerreiro’. (...) mas já não tem a mesma garra de outrora, porém, continua
sendo um grande exemplo de desportista para os jovens.' [1]
Mesmo no alto de seus 76 anos, quase cego e sem
poder andar muito, ainda vamos encontrar o Mestre Cazumbi tocando sua tuba nos
eventos religiosos e festivos da cidade. Duas ou três vezes na semana, leva seu
material de treino para o campo do Tapete Verde para não deixar o time do
Maguary morrer. Mesmo sem o reconhecimento e apoio das entidades esportivas
locais, ele continua sendo aquele tipo de pessoa que deixou o esporte entranhar
nas veias, sendo o faz-tudo do seu time: dono, treinador e roupeiro."
Ao Mestre Cazumbi, com carinho... descanse em
paz!
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Fonte: [1] “O Velho Cazumba”. Aradi
Silva. O Literário. Ano III, Edição 18, julho de 2001, p.4. Camocim-CE.