O fato do
município de Camocim ter sido beneficiado com um litoral de 64km, gera uma
falsa impressão de fartura, de que os peixes saltam em direção às panelas de
milhares de famílias que ao longo de dezenas de anos, escolheram a cidade,
fugindo das limitações do sertão, onde um pequeno ou grande açude, enche ou
seca totalmente, sempre dependendo do inverno. Já o mar...
Acontece que
não é bem assim, pois apesar de muitos desconhecerem, tem muita gente passando
fome em Camocim. O mar, as belezas naturais, apenas dão um tom cor de rosa para
a situação.
Quando eu
era menino, isso na década de 70, início de 80, o que escrevi acima, eu já
escutava de meu velho pai. Ele via além da brisa amena, do barulho apaziguador
das ondas, através dessa espécie de cortina natural que esconde a miséria,
companheira constante de qualquer cidade do país, não sendo diferente em
Camocim. Hoje, 35 anos depois, com a escassez cada vez maior de emprego,
crescimento populacional desordenado, pesca em declínio, a "cortina de
fartura" continua sendo o canto da sereia para muitos que ainda sofrem com
a impiedosa seca no sertão.
Camocim continua, com todos os seus defeitos, sendo
o porto seguro dessas pessoas, mesmo ainda estando longe de ser, sequer, um
"trapiche" para elas. A realidade, nua e crua, é que a cidade é para
poucos, muito poucos, retratando assim a colossal e crônica desigualdade social
que assola nosso país.
Postado por
Tadeu Nogueira às 10:29h