Passada a primeira etapa das eleições de 2014,
cada vez mais a tecnologia toma conta do embate eleitoral. No mesmo dia temos
os resultados das urnas e vitoriosos e derrotados não são expostos a uma tensão
maior de espera dos seus esforços de campanha. Os eleitores já estão sendo
identificados pela biometria diminuindo sensivelmente as fraudes. Mas nem
sempre foi assim. Sou do tempo em que a vitória ou a derrota dos partidos e
candidatos só era conhecida após três dias, no caso de Camocim.
A central de apuração
era no então prédio do INPS e a contagem era feita voto a voto, nas cédulas de
papel, e as diferenças transmitidas por meio de bilhetes jogados do alto para a
população que se aglomerava nas imediações ou então pelos informes dos
repórteres das rádios ligadas aos grupos políticos Cara Preta e Fundo Mole -
Radio União e Pinto Martins, respectivamente. Quando um partido se distanciava
na contagem, o desânimo tomava conta dos radialistas do partido que estava
perdendo e as atualizações dos resultados para estes, eram um verdadeiro
calvário a ponto de desistirem antes de finda a apuração. Mas se voltarmos ao
inicio do século XX, as eleições não tinham essa exploração midiática. Os
resultados eram praticamente feitos nas alcovas das repartições públicas, à bico
de pena, como se dizia antigamente, por pessoas ligadas ao partido que estava
no poder. Embora com caráter anedótico, o jornal A Esquerda de Sobral de 1919,
traz um episódio escrito na coluna Respingos, assinada por um certo H.M, que
ilustra bem como foi decidido os destinos políticos de Camocim naquele ano, mas
que serve para qualquer lugar. Diz o nosso colunista:
- Senhor coronel o homem foi derrotado
barbaramente: gemeu o escriba.
-Quantos votos a mais?
-Duzentos, afora as cédulas rasgadas.
-E você fez o que seu palerma?
- O que pude. O pessoal do cemitério votou todo,
mas falta ainda gente e a cabeça não ajudou.
- Tolice homem. Vamos. Escreva lá: João Silva.
- Já votou: Tartamudeou o outro.
- Pancrácio Pimenta.
- Serve.
Os
nomes sucederam-se numa cantilena monótona até de manhã quando o coronel
inquiriu:
- Uns dois,
- Ponha lá!
- Não posso mais estou com a munheca dormente.
O
coronel escreveu os nomes restantes e o candidato situacionista foi eleito...
Se pudessem, com certeza ainda haveria políticos que usariam desse expediente.
Se pudessem, com certeza ainda haveria políticos que usariam desse expediente.
Carlos Augusto Pereira dos Santos