No sentido de homenagear o ex-deputado Murilo
Aguiar e impossibilitado de participar diretamente dos eventos que serão
realizados em Camocim, aproveito a coluna para transcrever um texto já
publicado em 9 de agosto de 2012 no Blog Camocim Pote de Histórias. Era 1º
de março de 1985. Encontrava-me na cidade de Itapipoca fazendo um estágio no então
ITERCE (Instituto de Terras do Ceará), hoje IDACE.
A tarde transcorria
modorrenta quando pegando uma fresca no quintal do escritório da repartição,
peguei o meu portátil e aleatoriamente, sintonizei uma rádio de Fortaleza, que
subitamente entrou com um repórter ao vivo transmitindo as eleições para a
renovação da Mesa Diretora da Assembleia. Legislativa. Qual não foi minha
surpresa ao ouvir que o então Deputado Murilo Aguiar disputava aquela eleição.
Tratei de chamar os outros colegas para informar o acontecimento e assistir
comigo aquele evento. Alguns já me parabenizavam pelo fato do conterrâneo
ilustre estar chegando ao cargo máximo do legislativo. Pensei em como os
camocinenses acompanhavam aquela transmissão, visto que era difícil sintonizar
as rádios da capital. Murilo Aguiar era um político quase mitológico que
povoava o imaginário de boa parte da população camocinense, endeusado por seus
correligionários e odiado por adversários. Com a disputa acirrada, minha
torcida aumentava a cada voto, mas, logo instalou-se uma confusão que o
repórter não sabia definir bem, com a retirada do deputado para um hospital da
cidade. Depois viria a notícia fatídica de sua morte. Conforme uma publicação
póstuma da Assembleia Legislativa lê-se:
"Quando da renovação da Mesa Diretora da Assembléia
Legislativa em 1985, apresentaram-se à disputa dois candidatos: Murilo Aguiar e
Castelo de Castro. O primeiro, apoiado pelo Governador do Estado, Gonzaga Mota,
enquanto Castelo de Castro recebia o beneplácito da oposição e do Presidente da
Casa, Aquiles Peres Mota. A previsão do resultado de empate favorecia o mais
velho, no caso Murilo Aguiar. A votação decorreu em clima dos mais tumultuados
na história do Legislativo Cearense. Quase no final da apuração, o Presidente
concluiu pela anulação de um voto favorável a Murilo Aguiar, determinando a
vitória de Castelo de Castro. Não suportando o impacto do resultado , viu-se
acometido de infarto do miocárdio, falecendo logo após atendimento hospitalar. Como
homenagem dos deputados, foi dado o seu nome ao Auditório da Assembléia
Legislativa do Ceará".
Na transmissão radiofônica ainda pude ouvir que o
voto anulado em questão tinha sido o do próprio Deputado Murilo Aguiar, o
que teria contribuído ainda mais para o infarto do mesmo e até para a tentativa
de revide físico contra o Presidente da Casa, Aquiles Peres Mota, por
parte de alguns de seus filhos presentes. Para mim ficou a imagem de um homem
que morrera em pleno exercício de sua vocação, não se evocando aqui nem
qualidades nem defeitos, mas, simplesmente exercendo seu ofício.
Carlos Augusto Pereira dos Santos
Fonte: Ceará. Assembleia Legislativa do
Estado. Memorial. Deputado Pontes Neto. Deputados Estaduais: 15ª legislatura
1959-1962/ Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. – 2. ed. – Fortaleza:
INESP, 2006, p.160.