Navegando pelo facebook deparei-me com um vídeo
que mostrava uma fábrica de mosaico que ainda resiste na cidade de Barbalha. Imediatamente, veio-me a lembrança da nossa fábrica que ficava na confluência
das ruas da Independência, Paissandu e Marechal Deodoro da Fonseca, ali nas
"seis bocas", bem no lugar onde hoje está localizada a Pousada
Tropical do nosso amigo Magazine.
Durante a semana, passava por lá, posto que
era meu caminho rumo ao então Colégio Estadual Padre Anchieta (CEPA), hoje
Colégio Estadual Professor Ivan (CEPI). Invariavelmente lançava um olhar para o
interior cinzento da pequena fábrica, onde homens de dorsos nus manejavam
tornos, formas, tinta e cimento. Na sarjeta da casa acanhada que abrigava a
fábrica deste ofício que virou arte, uma água colorida pelas tintas usadas para
realçar os desenhos dos mosaicos, escorria ao longo da rua, revelando os tons
usados no dia, assim como a falta de saneamento básico no final dos 1970 em
Camocim.
Os mosaicos fazem parte das minhas lembranças de
adolescente, num tempo em que ter uma casa com mosaico era sinal de status.
Quando minha família mudou-se para a Rua do Egito em meados da década de 1970,
contavam-se nos dedos as casas que tinham ao menos uma sala "emosaicada".
A maioria das casas tinham como piso uma espécie de tijolo quadrado, que alguns
chamavam de ladrilhos. Quando meu pai melhorou de situação financeira, tratou
logo de colocar mosaicos na casa, feitos na fábrica acima referida, com
desenhos simples e duros de "dar brilho".
Quando mamãe cismava de dar
um trato no piso, a operação tomava um dia inteiro de trabalho envolvendo os
membros da família e vizinhos. Lavava-se a casa com muita água, sabão e outros
produtos ácidos. Depois, era um tal de passar cera Cachopa (acho que era assim
que se escrevia) com panos de flanela por toda a casa. À falta de enceradeira,
improvisava-se o polimento com panos de sacos maiores onde as crianças menores
sentavam em cima e eram puxados pelos maiores. O atrito do pano com o peso da
pessoa funcionava como polidor. Era um serviço puxado, mas também de
brincadeiras, de apostas das duplas para quem chegava primeiro no final
marcado.
Mas o que me impressionava mesmo era o piso da
Igreja Matriz, com seus mosaicos bem trabalhados e rebuscadas formas. Quase
sempre me perdia naqueles labirintos de desenhos, buscando conexões geométricas
outras, para além do que estava disposto, desde que o Monsenhor José Augusto da
Silva deu por terminada nossa Matriz, na primeira década do século XX.
Passou-se o tempo do mosaico, ou melhor, outros tipos de piso entraram em moda,
facilitando a limpeza e inaugurando outros gostos fundamentados em lajotas
monocromáticas e esmaltados brilhantes. Veio um frade que transformou tudo
aquilo em pó, retirou o teto de madeira e substitui por PVC e ainda mudou a
data da festa do nosso padroeiro Bom Jesus dos Navegantes com a conivência dos
conselheiros e dos fieis paroquianos.
Mas essa crônica quer falar de mosaicos... Ainda bem que em Barbalha, essa arte e ofício não morreu e continua resistente.
Mas essa crônica quer falar de mosaicos... Ainda bem que em Barbalha, essa arte e ofício não morreu e continua resistente.
Carlos Augusto Pereira dos Santos