segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A VOZ QUE NÃO PODE CALAR

A VOZ QUE NÃO PODE CALAR 
(Hélio Leitão)
Nos últimos meses, quatro radialistas do interior cearense foram mortos. Em agosto, Gleydson Carvalho foi morto durante a apresentação de seu programa, que, entre outros temas, tratava de política. Curiosamente, o programa chamava-se Liberdade em Revista. Ainda este ano, radialistas em Pacajus e Brejo Santo foram mortos na saída do trabalho. Em apenas um dos casos, o mais recente, ocorrido no Maciço de Baturité, deu-se após discussão em um bar. Nas demais, as investigações apontam uma relação direta entre a morte e o exercício da atividade jornalística.
Os fatos registrados aqui no Estado contribuem para engordar os números que colocam o Brasil como o terceiro país mais perigoso das Américas para o exercício da atividade jornalística, atrás apenas, nesse desonroso rol, de México e Honduras, isto segundo o último relatório da organização internacional Repórteres Sem Fronteiras. 
Os números assustam. Não apenas por serem ações bárbaras, que ceifam vidas estupidamente, mas de crimes que tentam calar uma voz dissonante, que vai de encontro ao senso comum ou ao poder dominante. Sim, porque, em sua grande maioria, esses profissionais mortos – no Ceará e em todo o País – denunciavam possíveis casos de corrupção, relatavam violações de direitos humanos, entre tantas outras coisas que incomodam os detentores do poder, os que têm algo a esconder. 
É preciso ter a consciência de que a morte desses profissionais é uma perda não apenas para suas famílias como para toda a sociedade, dado que o exercício do jornalismo é pilastra fundamental da democracia, sem a qual a sociedade ficará privada da necessária informação para construir sua opinião e seus juízos de valor. A morte, as ameaças e intimidações a que esses profissionais venham a ser submetidos representam uma ameaça à liberdade de expressão. Uma afronta ao estado democrático de direito. 
Como declarou Irina Bokova, diretora-geral da Unesco, a respeito do assassinato do radialista Gleydson Carvalho, em Camocim, no último mês de agosto, “os jornalistas são a voz do povo e quando a violência é usada para silenciá-los, toda a sociedade sofre”.
Hélio Leitão (Secretário da Justiça e Cidadania do Estado do Ceará)
Artigo publicado na edição desta segunda-feira (07) no Jornal O Povo