(Avelar Santos)
Sou de uma época jurássica primitiva, bem anterior
a tudo que se imagina, quando o mundo vivenciava, aflito, dia após dia, nas
mais diversas latitudes e longitudes, a guerra fria, os avanços e recuos
militares intermináveis no embate estratégico de duas superpotências, Estados
Unidos e União Soviética, cujo clímax aconteceu quando a inteligência americana
descobriu que os soviéticos haviam instalado mísseis em Cuba, o que levou à
iminência de uma catástrofe nuclear que, para sorte de todos, evidentemente não
aconteceu.
Agora, mais uma vez, passados cinquenta anos desse
fato histórico, a humanidade vive novamente momentos de aflição, de medo, por
conta do acirramento da tensão entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte,
cujo ditador, de nome tão esquisito quanto ele próprio, Kim Jong-un, um
baixinho de olhos repuxados e com alguns parafusos soltos, resolveu
acintosamente desafiar as leis internacionais, que regem tal assunto,
realizando testes quase que semanais com artefatos balísticos intercontinentais
que, em tese, podem levar ogivas atômicas e causar uma destruição de proporções
inimagináveis.
Do outro lado do conflito, encontra-se o magnata
Donald Trump, guindado recentemente à Presidência da América, derrotando não se
sabe como a candidata favorita nas pesquisas, Hillary Clinton, apoiada por
Obama, cujas características nebulosas centrais apareceram tão logo ascendeu ao
poder (a impulsividade e a arrogância), que já determinou o envio de submarinos
e porta-aviões para o Mar do Japão, área em que acontece este conflito, como
meio de dissuadir o Presidente Norte-Coreano a tomar qualquer atitude mais
intempestiva.
Não é preciso, portanto, ser nenhum Einstein para
chegarmos à conclusão óbvia que estamos amarrados a um barril de pólvora, cujo
estopim está preste a ser aceso, com prejuízos incalculáveis para todo o globo,
sendo o início do fim, configurando-se o temível Armagedom, desde que a ação da
diplomacia dos países contendores não surta o efeito imediato tão esperado.
Ainda existe uma saída para esse bizarro e
perigoso imbróglio. E isto é muito bom. Prova disso, é que, recentemente, uma
autoridade coreana de alto escalão disse que o governo de Pyongyang pode
ingressar em um diálogo produtivo com o governo de Washington se as condições
forem corretas. Segundo esta fonte, isto acontece em meio a um aumento dos
esforços internacionais para pressionar o país comunista a desistir de seus
interesses beligerantes e, consequentemente, reduzir as tensões que atingiram
níveis alarmantes, de lado a lado, cujos tentáculos insidiosos e maléficos se
distendem, infelizmente, a outras nações, na aldeia global.
E eu que me aposentei faz pouco tempo, depois de
uma eternidade no Magistério, na Terra da Luz, que pensava, aqui, com os meus
pálidos botões, nos anos restantes da existência, sob a complacência das
bênçãos celestiais, em cuidar de bichos e de plantas num pequeno sítio,
adquirido com suor e lágrimas, na zona rural de minha amada Camocim,
desfrutando da simplicidade prazerosa da vida do campo, ouvindo, fascinado, o
canto mavioso dos passarinhos, nos cajueiros, ao redor da casa, revigorando o
espírito alquebrado com louvações ao Criador, ao romper de cada aurora, rendendo-lhe
franciscanamente graças por tudo, inclusive pelos percalços do caminho que
tanto me fortaleceram, ao longo da jornada, observar toda essa descomunal
insensatez, me traz uma insônia danada - e calafrios intermitentes.
Que o bom Deus tenha piedade de nós, acalmando os
ânimos inflados desses dois mandatários, e que restabeleça, para nossa mais
completa alegria, o quanto antes, sobre o planeta inteiro, o manto sagrado da
paz mundial. Que saudades do Futuro!
Avelar Santos (Professor e Escritor)