Nas Sagradas Escrituras, o Rabi de Nazaré nos
ensina que a felicidade plena reside no fato de amarmos Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Ora, das inúmeras virtudes que o ser humano
possui, muito embora infelizmente bem poucos desfrutem de tal privilégio, duas
se destacam e se complementam intrinsecamente neste emaranhado complexo do
cipoal personalístico ético que molda cada indivíduo: a generosidade e a
gratidão. Na verdade, elas são as sementes que fazem florescer de forma mais
bela e sublime a nossa essência divina.
Há dias, o adolescente franzino estava com
pústulas espalhadas por todo o corpo. Distante da família, estudante, pobre,
morando em uma República, alimentava-se mal. Apesar de tudo isto, e do
desconforto cotidiano, era um dos melhores alunos do Colégio Redentorista.
Naquele dia, ele encontrou-se casualmente com o
Sr. Valmir Paiva, ferroviário de boa cepa da extinta RFFSA, no cruzamento da
Rua Liberato Barroso com a Avenida Imperador, onde este último residia. Ao ver
o estado deplorável do rapaz, que vinha da Escola, esbaforido, o nobre amigo de
seu pai, homem honrado e generoso, após um dedo de prosa, perguntou-lhe se não
queria acompanhá-lo até o HGF, pois ele tinha um assunto a tratar urgentemente
com o seu cunhado, Dr. Carlos Augusto, médico conceituado daquele Hospital.
A fome e o cansaço extremo disseram insistentemente não ao convite que fora formulado. Entretanto, o jovem humildemente assentiu. Ato contínuo, eles pegaram um velho fusca, que fazia às vezes de táxi, e logo chegaram ao destino escolhido. Ao adentrarem a recepção do HGF, logo deram de cara com o bondoso médico que se despedia presumivelmente de algum paciente. Ao ver o amigo que chegara, seu rosto iluminou-se num largo sorriso. Cumprimentaram-se animadamente e conversaram reservadamente a certa distância de mim. Depois, fui chamado pelo Sr. Valmir e apresentado ao Dr. Carlos Augusto. Feitos os cumprimentos de praxe, notei que ele olhara detidamente para as minhas feridas dos braços e das mãos. Contudo, nada falou. Na verdade, não precisava.
Eu já entendera o quê se passava. Assim, convidou-me gentilmente a sentar-me em um banco, postado em um grande corredor, que dava acesso a inúmeras salas, dirigindo novamente sua atenção ao cunhado. Dessa vez, a conversa foi bem mais demorada. Ao longo da mesma, percebi que ambos gesticulavam muito e, de vez em quando, olhavam na minha direção. A certa altura, fui novamente chamado. Após todas as informações colhidas, com o diagnóstico já devidamente pronto, o Dr. Carlos falou-me que usasse um sabonete líquido, de nome esquisito (Phisorex), para fazer a assepsia diária dos ferimentos e que comesse bastante proteína animal e frutas. Depois, com sua voz tranquila e com seu jeito bonachão, o Sr. Valmir Paiva disse-me que eu iria fazer todas as refeições em sua casa, inclusive tomar o café da manhã, a partir daquele dia. Senti-me envergonhado e, ao mesmo tempo, grato e deveras aliviado por tão inusitado convite.
Sabia que doravante não mais teria qualquer problema de saúde, pois àquilo por que estava passando era reflexo da má nutrição. Depois de uma meia hora, estávamos de volta ao ponto de origem. Quando descemos do veículo, o Sr. Valmir, colocando amigavelmente a mão no meu ombro, como se para me dar forças, falou-me que eu começaria naquela mesma data a fazer as refeições, com ele, almoçando com sua família. Quase chorei de tanta emoção. Ali mesmo, fiz uma breve prece aos céus em agradecimento por tão grande bênção. Finalmente, nos dirigimos a sua residência, que ficava próxima da Praça da Lagoinha, ali, defronte a uma sisuda e barulhenta fábrica de tecidos, que não se calava dia e noite.
A fome e o cansaço extremo disseram insistentemente não ao convite que fora formulado. Entretanto, o jovem humildemente assentiu. Ato contínuo, eles pegaram um velho fusca, que fazia às vezes de táxi, e logo chegaram ao destino escolhido. Ao adentrarem a recepção do HGF, logo deram de cara com o bondoso médico que se despedia presumivelmente de algum paciente. Ao ver o amigo que chegara, seu rosto iluminou-se num largo sorriso. Cumprimentaram-se animadamente e conversaram reservadamente a certa distância de mim. Depois, fui chamado pelo Sr. Valmir e apresentado ao Dr. Carlos Augusto. Feitos os cumprimentos de praxe, notei que ele olhara detidamente para as minhas feridas dos braços e das mãos. Contudo, nada falou. Na verdade, não precisava.
Eu já entendera o quê se passava. Assim, convidou-me gentilmente a sentar-me em um banco, postado em um grande corredor, que dava acesso a inúmeras salas, dirigindo novamente sua atenção ao cunhado. Dessa vez, a conversa foi bem mais demorada. Ao longo da mesma, percebi que ambos gesticulavam muito e, de vez em quando, olhavam na minha direção. A certa altura, fui novamente chamado. Após todas as informações colhidas, com o diagnóstico já devidamente pronto, o Dr. Carlos falou-me que usasse um sabonete líquido, de nome esquisito (Phisorex), para fazer a assepsia diária dos ferimentos e que comesse bastante proteína animal e frutas. Depois, com sua voz tranquila e com seu jeito bonachão, o Sr. Valmir Paiva disse-me que eu iria fazer todas as refeições em sua casa, inclusive tomar o café da manhã, a partir daquele dia. Senti-me envergonhado e, ao mesmo tempo, grato e deveras aliviado por tão inusitado convite.
Sabia que doravante não mais teria qualquer problema de saúde, pois àquilo por que estava passando era reflexo da má nutrição. Depois de uma meia hora, estávamos de volta ao ponto de origem. Quando descemos do veículo, o Sr. Valmir, colocando amigavelmente a mão no meu ombro, como se para me dar forças, falou-me que eu começaria naquela mesma data a fazer as refeições, com ele, almoçando com sua família. Quase chorei de tanta emoção. Ali mesmo, fiz uma breve prece aos céus em agradecimento por tão grande bênção. Finalmente, nos dirigimos a sua residência, que ficava próxima da Praça da Lagoinha, ali, defronte a uma sisuda e barulhenta fábrica de tecidos, que não se calava dia e noite.
Durante muitos anos, tive o prazer de desfrutar do
acolhimento sem igual daquela samaritana e inigualável família e de tornar-me,
ao longo do tempo, amigo do distinto casal e de seus filhos.
Acaso vivesse mil anos e todo dia agradecesse a
Deus, com o rosto prostrado por terra, por todas as boas ações que o Sr. Valmir
Paiva fizera por mim, rogando incansavelmente proteção ao Todo Poderoso para
ele (e para os seus) isto seria muito pouco diante da magnitude incomparável de
seu nobre gesto de solidariedade.
A luz bruxuleante do candeeiro da chama da bondade
nunca se extinguirá nem tampouco o homem que trilha o caminho do bem, semeando
amor e alegria, por onde passa, jamais será esquecido e terá um galardão de
infinitas bênçãos por toda sua vida. E no final da estrada da fugaz existência
terrena, o Senhor certamente o recompensará com o prêmio dos justos,
ofertando-lhe um lugar cativo permanentemente ao seu lado no Paraíso.
Obrigado por tudo, Sr. Valmir! Sem a sua ajuda
inestimável e providencial, meu dileto compadre, certamente eu não teria ido
tão longe.
Que Deus o abençoe e seja sempre seu refúgio e
fortaleza, dando-lhe forças redobradas para continuar a jornada, mesmo com
algumas pedras pelo caminho.
Avelar Santos (Professor e Escritor)