Por Paulo Emanuel Lopes*
Se nós trabalhamos uma vida inteira em busca de conforto e melhores condições de vida, é natural que queiramos passar essas conquistas para nossos filhos.
Assim, estes não precisariam passar por tudo que
passamos e podem, por sua vez, construir uma vida melhor para seus filhos. Em
um ponto de vista mais amplo, significa que, como sociedade, caminhamos
continuamente para um mundo melhor.
Mas é isto que está acontecendo na vida real?
Estudos apontam que os baby boomers, nascidos no pós-Segunda Guerra Mundial (nossos pais),
são a geração mais rica que já houve na história e nós, os millennials (nascidos após a década de 1980), somos mais pobres que
os nossos pais. E a coisa não melhora para os nascidos hoje: a riqueza vem
caindo a cada geração, e os que são muito jovens hoje encontrarão ainda mais
dificuldades financeiras quando chegarem à fase adulta.
As razões são múltiplas e não se aplicam a todos.
Podemos citar, por exemplo, a crise financeira de 2008-2009 como uma das
principais causas para a pobreza dos jovens no mundo rico: afundados em dívidas
estudantis e tendo de arcar com o alto custo dos aluguéis, encontram pela
frente o desemprego. No Brasil, após alguns anos de crescimento econômico
contínuo, nós jovens (sou de 1985) estamos tendo que enfrentar severa crise
econômica desde 2014, o que nos leva a ser uma “geração da crise”.
Importante explicar aqui que não diminuiu a quantidade
de dinheiro no mundo; este é que ficou mais concentrado nas mãos de poucos, o
que resulta em pobreza para o resto da população.
O problema é que a crise não vai ceder. A dívida
pública do Brasil já alcança 90% de toda riqueza que produzimos em um ano (já
pensou, trabalhar onze dos doze meses de um ano só pra pagar dívidas?). Nosso
déficit de infraestrutura nos deixa um país baseado em rodovias e caminhões, o
que encarece as mercadorias. A complexa burocracia e sistema tributário
(pagamento de impostos) do país, aliada à corrupção sistêmica, completam o
chamado “custo Brasil” que impede o país de crescer.
Crise econômica contínua frustra toda uma geração de
jovens que ficam adultos e não encontram oportunidades de trabalho. O resultado
do desânimo é a crença em soluções milagrosas, como candidatos que não entendem
nada de economia mas se elegem dizendo que vão “dar um jeito nissutudaí” - e
acabam não resolvendo nada.
E não estamos falando aqui de problemas hipotéticos,
mas da vida real: um país sem orçamento significa falta de médico no posto de
saúde, escolas públicas sucateadas, pessoas que não conseguem se aposentar,
estradas esburacadas...
A extrema direita não chegou ao poder no Brasil, nos
Estados Unidos e em outros países à toa, mas por resultado da falência das
elites (a esquerda inclusa) em prover bem-estar às massas. O resultado dessa
desigualdade de renda, que inclusive aumentou muito durante a pandemia, são os
conflitos sociais. A invasão do Capitólio (Congresso Nacional) dos Estados
Unidos, neste mês de janeiro de 2021, foi mais uma mostra de como a frustração
das massas com a pobreza e a falta de perspectivas com o futuro pode acabar em
violência.
Então, qual a solução para o problema? Sinto informar
que não há.
Os economistas dizem que a solução é o Brasil manter
superávit primário (receita maior que despesa) por muitos anos, até que o
orçamento seja reequilibrado. O problema é que quem diz isso está empregado e
com a barriga cheia; não tem a mesma pressa por solução de um desempregado que
vê o mês chegar ao fim, sem dinheiro para o aluguel ou para a comida dos
filhos.
A única solução de reequilíbrio fiscal sem convulsão
social seria um perdão generalizado das dívidas. Os rentistas que têm milhões,
bilhões, trilhões em dívidas de países (não precisa ser você, que tem alguns
mil e acha que é rico) abrindo mão de parte, ou do todo desses valores, para
que os países pudessem reconstruir seus tecidos sociais, forçando uma redução
brusca das desigualdades sociais. Ou que as elites locais se reunissem para
doar parte de seus recursos para obras que cuidassem dos mais jovens, evitando
de jogá-los na pobreza e na falta de perspectivas, de modo que construíssem
alternativas à falta de emprego (empreendedorismo).
Isso, convenhamos, não vai acontecer. Não nesta nossa
geração, pelo menos.
* É camocinense,
publicitário e jornalista. Escreve às sextas.
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