A Praia do Preá, localizada no município de Cruz, é um dos principais cartões postais do Litoral Oeste cearense.
Com longa extensão de mar calmo, piscinas naturais e cenário paradisíaco, o local atrai turistas de várias partes do Brasil e do mundo.
Mas a natureza que tanto encanta também desperta a cobiça da especulação imobiliária, que avança desenfreadamente sobre as áreas de preservação no entorno das águas.
A faixa de areia, que antes era utilizada apenas por banhistas e praticantes de kitesurf, esporte aquático que mais cresce no Ceará, se transforma em pista de corrida à medida que construções possivelmente ilegais são erguidas em plena orla.
Imagens e vídeos enviados ao O POVO por um kitesurfista e frequentador da praia mostram carros, motos e até veículos de carga transitando livremente pela faixa de areia. A prática, além de ilegal, por se tratar de ambiente marinho e de preservação ambiental, leva risco de acidentes aos banhistas e adeptos do kitesurf e de outras modalidades de esportes náuticos. “A praia é usada como avenida. Todos os carros, motos, veículos de carga… todo o trânsito passa pela faixa de areia. Tudo isso sem fiscalização nenhuma e com grande risco de atropelamentos”, relata o kitesurfista, que aceitou conceder a entrevista sob condição de anonimato.
Segundo ele, o movimento de veículos na orla cresceu principalmente nos últimos dias devido à construção de uma casa de alto padrão em área próxima ao mar e ao lado de dunas na Vila Preá, trecho abrangido pela praia de mesmo nome.
“Todos os dias é um vai e vem de caminhões e mais caminhões de areia - que a gente não sabe de onde vem - mas que são levados para essa construção. Recentemente eu passei lá em frente e vi que com a maré alta a água chega na porta da casa. Então eles estão usando essa areia para proteger o imóvel da chegada do mar”, descreve.
Uma placa afixada em tapumes no entorno do imóvel mostra que a Prefeitura Municipal de Cruz expediu autorização para a construção da residência em agosto passado.
O Secretário de Meio Ambiente do Município, Marcelo Brandão, foi procurado pelo O POVO na noite da última quinta-feira, 4, para comentar as suspeitas de que a obra estaria ocorrendo em área de proteção ambiental, mas se limitou a dizer que “[a casa] está regularizada”. O gestor pediu que a reportagem entrasse em contato com ele novamente nesta sexta-feira, 5, mas as tentativas não foram atendidas ou retornadas.
O kitesurfista que questiona a construção ainda afirma que recentemente descobriu uma coincidência “intrigante”: “Eu vi máquinas retirando grande quantidade de areia de dunas que ficam próximas da casa. Um absurdo, dunas sendo destruídas à luz do dia, de forma flagrante. Não sei para onde essa areia está indo, mas fica o apelo para as autoridades impedirem que esse crime prossiga”, pede. Segundo ele, no passado, as mesmas dunas já haviam sido exploradas ilegalmente por empresários da construção civil.
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Por Tadeu Nogueira