domingo, 9 de janeiro de 2022

"A POESIA DAS MANHÃS", POR AVELAR SANTOS

Cada vez que Aton se veste do mais puro linho, por trás da Ilha da Testa Branca, semeando um caminho de luz, pelos céus, compondo, com alegria, a poesia das manhãs, exalto, na minha pequenez, a magnificência de Deus.

Nessa hora bendita as maravilhas do Criador despontam, radiosas, em todo o seu esplendor, enchendo de inefável paz os corações daqueles que se debruçam, na janela do tempo, por instantes, que se tornam eternos, a contemplar a magia do alvorecer.

Nas copas das goiabeiras, pelos quintais, os passarinhos fazem uma festa de rara beleza, saudando o raiar do novo dia com trinados maviosos, colorindo os sonhos de menino que carregamos conosco.

E a afinada orquestra dos irmãozinhos alados, tocando ritmos diversos, dissipa, como por milagre, o cansaço da vida, tangendo a felicidade para perto.de nós.

Daqui a pouco, a cidade, que ainda dorme, na sua serenidade provinciana, vai despertar!

Ao longe, já se vê o padeiro deixando saborosos 'carioquinhas", recém saídos do forno, pendurados, sem susto algum, nas portas das casas da freguesia, enquanto os vendedores de caranguejo palmilham as ruas vergados sob o peso dos crustáceos conduzidos nos remos.

Depois, os peixeiros passarão, como sempre apressados, em comboio, de bicicletas, levando deliciosos pargos, serras e garajubas ao mercado central.

Por fim, a taça do cristal do silêncio é quebrada, em mil pedaços, quando as crianças, com seus uniformes coloridos, em bandos, numa algazarra feliz, rumam às escolas, despreocupadas do mundo, esbanjando vitalidade, na certeza que o amanhã vai encontrá-las novamente.

Todas essas coisas, eu vejo, mergulhado nos meus pensamentos, agradecido ao Onipotente por desfrutar, uma vez mais, deste momento sublime.

E isto é muito bom!

Avelar Santos (Professor e Escritor)