A exploração do jogo do bicho no Brasil, como sabemos, é objeto de polêmica e controvérsia.
Em Camocim não é e não foi diferente. Em nossas pesquisas encontramos um processo envolvendo trabalhadores, a própria polícia como agente corruptor e explorador do jogo e a justiça, representada pelo promotor da cidade.
Tal processo chegou a ser remetido à Procuradoria Geral do Estado, mas, ao que parece, não surtiu efeitos na exploração da jogatina. No processo, podemos perceber a geografia da exploração do jogo na cidade, descrita com detalhes.
Nesse sentido, pode se pressupor que era realmente uma atividade econômica lucrativa, com diversidade de empreendedores e mão-de-obra, afora seu caráter lúdico: " ... que outras pessoas tem banca de jogo no Mercado Público nesta cidade: Antônio Boi Velho, Gerardo Frederico que banca o caipira para o Piragibe Faroleiro do Farol Trapiá do Porto desta cidade, que nesta cidade há uma casa de jogo de azar na qual é encarregado Alberto Queiroz, que na esquina do Mercado Público há outra casa de jogo de azar onde se joga de caipira e baralho (...) que nas Quatro Esquinas, há outra casa de jogo, cujo proprietário o declarante desconhece; que na rua da Praia há outra casa de jogo pertencente a Valdemar Bessa, que é filho do Sr. Inácio Prado; há outra casa de jogo que pertence a Odilon Rocha e está arrendada a Chaga Manelão, onde há jogo de caipira, de baralho, roleta e jogo do Bicho, cuja casa funciona noite e dia, durante as festas e todo dia nos dias comuns; que não sabe que quanto o Delegado de Polícia recebe por esses jogos, mas sabe que o Delegado recebe dinheiro por esses jogos; que Odilon Rocha arrenda por quartoze mil cruzeiros a sua casa de jogo ao Chagas Manelão, não sabendo quanto o Odilon paga ao Delegado.
Na relação dos nomes citados, temos comerciantes, trabalhadores do porto, policiais, assim como das espécies de jogo de azar e o onipresente jogo do bicho.
Na atual conjuntura capitalista, o jogo do bicho saiu das mãos de pequenos bancadores e passou para modernos empresários, que em conivência com a polícia e às vezes até com a justiça, continuam a oferecer a prática do jogo, condenado constitucionalmente. Depois de ler esta postagem, vá a banca mais próxima e faça uma "fezinha", quem sabe hoje não é seu dia de sorte?!
*Professor, Historiador, Escritor e Editor do Blog Camocim Pote de Histórias
Texto escrito em 4 de junho de 2011