domingo, 13 de novembro de 2022

O TREM

Por Régia Maria Carvalho Xavier* 

Lá está ele, indo embora, mais uma vez, e mais uma vez eu o perco, fico a olhar simplesmente observando-o desaparecer no horizonte e, mais uma vez com aquela sensação de incompetência, por apenas um minuto eu o perco, naquele momento ele é o senhor do meu tempo, do meu destino, da minha vida! Todos e todas estão lá na hora certa, e eu mais uma vez, não! Ele não espera por mim!

Ele não espera por ninguém, todos esperam por ele, o tempo é o dele, a hora é a dele. E assim ele é usado para ir e para vir, vai cheio e volta mais cheio ainda, faz barulho, é desconfortável, mesmo assim, ali estão aquelas pessoas que mais uma vez vão e voltam diariamente, cansados, alegres, esperançosos, tristes, satisfeitos, entediados… ou ainda jovens com coragem, força e cheios de sonhos a realizar.

Nesse percurso diário em busca de condições mais adequadas para o deslocamento até o local de trabalho e de volta para casa, o transporte a ser utilizado e o que ele transporta, é objeto de reflexão. Sua pontualidade, sua segurança, sua firmeza, sua capacidade de caber cada vez mais e mais passageiros, e assim seguir dia após dia, em perfeita presença e pontualidade.

Alguém já disse que vida é uma viagem que deve ser desfrutada plenamente. Aproveite o caminho para saborear o que ela lhe dá e faça de cada instante um momento inesquecível. 

Não perca tempo com intrigas e não permita que a tristeza acompanhe você. Nesse percurso especial que é viver, a felicidade é tudo que nos interessa. E o que seria essa plena felicidade? Se não estiver de bem com você e com as pessoas com quem convive?

E nesse percurso onde cada pessoa constrói cotidianamente a busca pela sobrevivência, pelo pão de cada dia, por um espaço social a ser conquistado e por sua definição de sujeito, pessoa humana que na sua índole estão intrínsecas as necessidades básicas de atuação no seu contexto sociocultural, há momentos de vitória, de derrotas, de alegrias, tristezas, frustrações, decepções, mas também de realizações, conquistas merecedoras de aplausos, e tudo contribui para uma grande vontade de acordar todo dia e lutar por uma vida melhor, não individual, e sim, coletiva. Essa ideia faz parte de um projeto de vida que envolve o uso consciente e ecológico dos bens naturais que temos à nossa disposição. 

É evidente o paradoxo entre o corre-corre do dia a dia que nos impede de parar e refletir, e essa ideia de vida ecológica e reflexiva onde o menos é mais. No entanto, a vida continua, os sonhos continuam e a luta diária se dá na participação nas frentes de trabalho e nos diferentes espaços de atuação.

*Professora e Escritora