sábado, 18 de março de 2023

ESTUDANTE AUTISTA É APROVADO EM CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO NO IFCE

Nícolas Gabriel Santana Silva, de 17 anos, obteve aprovação no curso de Ciências da Computação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), após ter realizado o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2022. 

O jovem concluiu a educação básica na Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Salaberga Torquato Gomes de Matos, em Maranguape, onde fez curso técnico em Informática. 

A faculdade, de certa forma, representa a continuidade do estudo em uma área que é de interesse do aluno desde os tempos de infância. Na última segunda-feira (13), Nícolas teve o primeiro dia de aula como universitário no campus de Maracanaú.

A época em que descobriu a afinidade pelo ramo da tecnologia, por volta dos 6 anos de idade – quando ganhou da mãe um tablet – coincide com o período em que Nícolas recebeu o diagnóstico de autismo, condição que lhe impôs alguns desafios durante o ciclo escolar. Permanecer em ambiente ruidoso, por exemplo, era algo difícil para o estudante, sobretudo na fase de infância, quando o barulho é algo espontâneo num local onde há crianças reunidas. Formar amizades, também, não era algo tão simples.

Contudo, durante a adolescência, Nícolas pôde encontrar amparo no ambiente de ensino e aprendizagem, com professores e colegas que compreendiam a situação e apoiavam no que fosse necessário. O estudante lembra que conseguiu superar as antigas adversidades conversando com os colegas de classe. “Tenho muita saudade da escola. Foi divertido estudar lá. A EEEP para mim era uma família”, relata.

“Os professores eram bastante dedicados, me entendiam e me ajudavam a ter gosto pela educação. As aulas eram sempre muito boas. Inclusive, a escola nos preparou muito bem para o Enem e outros vestibulares, como o da Uece”, destaca.

Agora, com o futuro encaminhado, Nícolas comemora a conquista da vaga no Ensino Superior e incentiva aos demais que continuem lutando pela superação das dificuldades, por meio da crença nas próprias capacidades. “Estou muito feliz, porque eu queria aprender mais sobre a tecnologia. É só confiar que a parte ruim vai passar, porque nada é para sempre”, explica.


A condição de vida de Nícolas é acompanhada de perto por Marianalva Silva, mãe do estudante, que tem ainda outros dois filhos autistas. À época do diagnóstico do primeiro, ela conta, não se via tanta divulgação sobre o transtorno como existe hoje. Entretanto, a convicção no poder transformador da educação sempre foi mais forte.

Quando alguém dizia que eu deveria tirá-lo da escola, ele falava que iria estudar muito para mostrar a todos que o autista era capaz. Eu sempre falava a ele que a escola era o lugar dos bons, e que ele era o melhor de todos. Assim, até hoje, sempre que tem dificuldade, ele diz para si mesmo que é capaz”, enaltece a mãe. “O suporte da escola foi fundamental para que hoje estejamos comemorando juntos essa aprovação do meu filho”, destaca.

A diretora da EEEP de Maranguape, Janaína Belo, celebra a aprovação de Nícolas. “Isso é a prova de que o olhar especial para a educação inclusiva, que promova a equidade, vale muito a pena. A disponibilidade e a disposição da mãe foram fundamentais para que todo o processo fluísse. Ela foi uma grande parceira da escola, que sempre chegava junto, ajudando para que pudéssemos vencer juntos os desafios, entendendo que poderia auxiliar todos da escola a compreenderem as limitações do filho dela”, detalha a gestora.

Por Tadeu Nogueira