"Bons companheiros reunidos na Praça Pinto Martins, em julho de 1964.
Da esquerda para a direita: Luzimar Pinto, Tarcísio Melo, “Carrin” da Macaboqueira, José Maria Trévia e Raimundo Maia", escreveu o autor sobre a foto.
O foco principal era a orientação para um relacionamento saudável entre os jovens e a oportunidade para que os mesmos desenvolvessem a capacidade de criar e forjar a sua responsabilidade, de acordo com a sua maturidade.
Não ousarei tratar de qualquer análise dos
encaminhamentos ou resultados desse louvável trabalho, até porque não sou
possuidor de conhecimentos específicos, práticos ou teóricos, sobre esse
delicado assunto, lembrando apenas que se tratava de uma tarefa árdua, exigindo
muita paciência e sacrifício da parte de seus obreiros.
De minha parte, a modéstia intromissão no
assunto vem na busca de revolver fatos ou passagens daquele saudoso tempo,
trazendo a lume acontecimentos dos quais participamos, como jovens atuantes ou
meros observadores.
O passo inicial do trabalho foi a indispensável arregimentação dos jovens, ou alvo principal, nas Escolas e nas Igrejas, criando uma estrutura de participação e fundando o que se denominou Lar da Juventude, tendo sido Camocim agraciado com duas dessas instituições: Lar da Juventude Centro e Lar da Juventude São Pedro, ficando sediada no prédio, construído em 1960, para instalação própria do efêmero Cine São Pedro, no Bairro de mesmo nome.
Quanto a mim, participei do Lar da Juventude (Centro), que foi sediado no cruzamento das Ruas da Independência e Santos Dumont, no prédio onde atualmente funciona o Colégio Georgina, que trabalha em parceria com a Faculdade Anhanguera.
Após dois anos, aproximadamente, do início
desse trabalho, o Padre Luiz foi transferido e substituído pelo Padre Edvar.
Este, sempre teve uma “pulga atrás da orelha”, a meu respeito, por minhas
atitudes rebeldes e, muitas vezes, inaceitáveis, embora mantivéssemos um
razoável relacionamento. Acredito que tudo era fruto da minha maneira de ser,
uma vez por outra aprontando algo que contrariava uma parcela significativa dos
atingidos. O interessante é que, salvo as exceções, como é de praxe, entre os
estudantes do meu Colégio Padre Anchieta, eu detinha uma liderança extraordinária,
o que me tornava imbatível nas eleições dos Grêmios Esportivo ou Literário.
Certa vez, o Padre Edvar marcou hora e data para uma palestra, ministrada por ele mesmo, dirigido especialmente aos jovens, numa tarde de sábado, no Lar da Juventude. Eu tinha lá as minhas indisciplinas, mas nunca fui afeito a impontualidade.
Dessa vez, “caí na malha fina”, e
cheguei atrasado. Nessas situações, eu sempre lembrava a frase “A
impontualidade é uma expressão de relaxamento moral”, que conheci exposta na
parede de minha sala de aula, na Marinha. Ainda assim, achei de somar mais
agravantes ao meu procedimento, ao dar uma resposta nada convencional a uma
pergunta que o Padre Edvar me fez, quando adentrei na sala, em pleno andamento
da palestra:
─ Pronto, o José Maria vai responder: O que
é o amor? Perguntou-me, no silêncio da plateia. Eu deveria ter sido mais
esperto, dando-lhe uma resposta baseada em tudo que se ouve e se fala sobre os
mais diversos tipos de amor. Mas, optei pelo lado errado, embora fosse mais engraçado:
− O amor... é uma flor roxa que nasce no
coração de um trouxa.
Alguns ensaiaram riso, mas se contiveram, e
a sala manteve-se em silêncio. O Padre Edgar
olhou-me bem de frente e também optou pelo silêncio. Voltou-se para a
plateia e retomou sua palestra:
─ Bem, pessoal, como eu ia dizendo, o
amor...
Era, assim, que aos poucos eu ia queimando
a minha imagem. E sempre havia alguém que ateava fogo para assar minha batata.
Entremos, agora, na primeira sessão da
hora da saudade, propriamente dita: O primeiro Presidente eleito foi o meu
dileto amigo Eisenhower Vasconcelos, com preferência unânime,
dado a seu companheirismo e sociabilidade. A nossa primeira Tesoureira foi Eny
Queiroz, verdadeiramente talhada para a função. Os associados recolhiam uma
pequena taxa mensal, que era empregada no pagamento de despesas. Provavelmente,
a Instituição era subsidiada, pois o valor arrecadado, jamais alcançaria o
necessário para as despesas. Nossa amiga Mosa, minha professora de sempre,
tinha bastante influência no funcionamento do Lar da Juventude, quer fosse o
aconselhamento informal, no dia a dia, ou como fonte de sábias sugestões para
as mais diversas atividades.
Ali, naquele ambiente, descobrimos grandes
amigos. Sem desmerecer os demais e citando apenas alguns, iniciamos por Eisenhower , Eny Queiroz, Mosa, Luísa
Marques, Raimunda Marques, Ivan Gomes, Mário Rios, Socorro Pinheiro, Luzimar
Pinto, Romilda, Emanuel Pinto, Alice Medeiros, Mirtes Rios, Gesuilda, Eunice
Medeiros, Tânia Rocha, dentre muitos outros. Assistíamos a Palestras sobre
diversos temas; tínhamos jogos de Ping-Pong,
Dama, Xadrez, Música; e dançávamos Bolero, Fox,
Samba e Twist. Só não podia dançar
“colado”.
Eu sempre achei que o criador do nome LAR DA JUVENTUDE foi um iluminado, de tanta criatividade que vejo nesta expressão. E até hoje eu a traduzo como um lugar onde se respira juventude, onde se sente a inexplicável essência da juventude em ebulição; onde a juventude mora sem a dependência do esqueleto de quem pensa carregá-la; e não, simplesmente, o lugar de pedra e cal, para onde vamos, simplesmente, porque somos jovens.