domingo, 12 de março de 2023

RAÍZES NA ITÁLIA

Por José Maria Trévia 
(Escritor Camocinense)

Como um território de espírito dividido entre o mar e as montanhas da Itália, a Ligúria é uma região em forma de arco, que se abre num abraço, envolvendo o Golfo de Gênova. 

Sua capital, a cidade de Gênova, possui um dos mais importantes portos do Mediterrâneo, o que concedeu ao povo ligúrio portuário o seu caráter aventureiro e empreendedor, divergindo da natureza mais rude do ligúrio montanhês, embora sejam ambos pertencentes à Ligúria, no Noroeste da Itália.

Foi, a Ligúria, o berço da família, cujos descendentes imigraram para o nosso país, indo estabelecer-se em Camocim e, ali, originando a família Trévia. Este nome, grafado originalmente sem o acento agudo, teve este sinal adotado, posteriormente, pelos descendentes brasileiros, tendo em vista o surgimento de uma diferenciação na pronúncia, quando falada por estes descendentes, comparativamente ao idioma italiano.

No longínquo ano de 1885, chegava a Camocim, com a idade de 23 anos, o jovem Giovanni Trevia (foto), trazido através das indecifráveis linhas do destino e ali deixado pela fatalidade de um naufrágio. Não havia, em seus volúveis planos de vida, nenhuma menção ou desejo de construir, em Camocim, um novo rumo para o seu futuro. Todavia, em sua modesta profissão de marinheiro, na função de um simples moço-de-bordo, viajando em navio cargueiro proveniente da Itália, vê os seus horizontes serem guinados para outros rumos, diferentes daqueles que lhe pareciam previamente destinados.

E assim, em um dia qualquer do citado ano de 1885, um navio cargueiro, proveniente da Itália, navegava nas costas brasileiras quando foi a pique. As causas verdadeiras do naufrágio perderam-se nos mares do tempo, mas algumas consequências na vida de seus tripulantes, ainda podem ser contadas.

Todos, ou quase todos, conseguiram salvar-se, graças à proximidade em que se encontravam da costa e ao tempo que tiveram para lançar os botes na água e abandonar o velho cargueiro, movido pela energia das caldeiras alimentadas com o carvão mineral. 

Após a bem sucedida tentativa de encontrar terra firme, os tripulantes tiveram a felicidade de pisar as praias conhecidas, à época, como Cabaceiras, na região dos limites de Camocim com os confins de outros lugares onde, atualmente, as suas referências são as proximidades das belas praias de Jericoacoara e Acaraú.

Embora de aparência inóspita para os náufragos estrangeiros, a região que lhes ofereceu o solo salvador era uma dádiva de Deus, habitada por camponeses e pescadores, que os acolheram e lhes ofereceram guarida, antes de serem encaminhados a Camocim. Ali, as autoridades portuárias iniciaram os demorados, porém, legais e necessários procedimentos, diante de tais circunstâncias, buscando devolver, à normalidade, a vida daqueles marinheiros, embarcando-os em outros navios que ali aportavam.

Um a um, eles foram retomando o timão de suas vidas, retornando às suas respectivas pátrias ou encontrando um novo lar sob a bandeira de um outro navio.

Entretanto, o náufrago Giovanni Trevia renunciou à vida de marinheiro e buscou regularizar sua permanência como imigrante, radicando-se em Camocim. Não houve, para ele, maiores dificuldades em permanecer legalmente em terras brasileiras, tendo em vista que o ápice da imigração italiana para o Brasil ocorreu no período de 1880 a 1930, tendo sido oficializada em 1888.

Giovanni Trevia era um jovem pobre em sua terra natal. Consequentemente, sua pobreza era ainda mais acentuada na condição em que chegara ao Brasil, como náufrago, quando sequer dominava o nosso idioma, e sem recursos financeiros para iniciar a sua nova vida. Todavia, era detentor de enorme disposição para o trabalho e grande visão para descobrir os espaços comerciais, aproveitando as oportunidades que lhe surgiam. 

Estas suas características o tornaram reconhecidamente um visionário, haja vista a razoável valia dos bens que conseguiu amealhar, com honestidade e persistência, nos vinte e seis anos após sua chegada a Camocim.

Suas primeiras economias foram constituídas a partir das rendas obtidas pelo trabalho braçal de fornecedor de água para residências, iniciando esta atividade quando ainda era total a ausência de prestadores deste serviço. Era um trabalho pesado e discriminatório, porém a sua honestidade venceu o preconceito, e a sua perseverança o elevou a um patamar mais confortável, através de aplicação, no comércio, do pequeno capital inicial que havia conquistado.

Giovanni Trevia iniciou o seu estabelecimento comercial varejista no ramo de mercearia, cujo crescimento o fez ampliar suas transações, avançando na atividade de panificação, cujos produtos chegaram a ter incluído em seu rol, um ou dois tipos de macarrão, que ele produzia de uma forma semi-artesanal. 

Os seus dois estabelecimentos comerciais funcionavam nos imóveis por ele construídos e que, embora modificados, ainda hoje existem, defronte à casa que foi residência de Dona Elisa Pinheiro e, hoje, pertencentes aos herdeiros desta senhora. Na direção do nascente, ou do lado da praia, funcionava a mercearia, local onde, na década de 1960, funcionava o Bar Ponto Branco; no lado oposto, frente para a Rua Engenheiro Privat, instalara-se a padaria. 

Mas, estes imóveis foram, apenas, os primeiros de uma série, tendo em vista que, com o decorrer do tempo, outros prédios foram sendo construídos e incorporados ao seu patrimônio, frutos da diuturnidade de seu trabalho e de sua natureza perseverante.

Quanto à constituição de sua família no Brasil, Giovanni Trevia casou-se em 28 de novembro de l896, com Amália Fontenelle Trévia, (Sinhá Trévia), os quais tiveram nove filhos, sendo sete homens e duas mulheres. Lamentavelmente, um de seus filhos do sexo masculino, o qual lhe seria a sexta dádiva de Deus, faleceu na véspera de completar um ano de idade, sendo sepultado em 07 de março de 1905, exatamente no dia em que faria o seu primeiro aniversário. 

Por ocasião de seu casamento, Sinhá Trévia, nascida em 08 de fevereiro de l879, tinha a idade de dezessete anos, enquanto Giovanni Trevia, nascido em 15 de maio de 1862, tinha a idade de trinta e quatro anos. A evidência constatada nestes fatos é que Giovanni Trevia tinha o dobro da idade de Sinhá Trévia, quando os mesmos contraíram matrimônio.

Em 1908, quase doze anos após o seu casamento, Giovanni Trevia fez a sua primeira viagem de visita à Itália, para rever a família. Ao retornar, trouxe em sua companhia para morar em Camocim, o seu sobrinho Mário Trevia, que contava, apenas, catorze anos de idade. Mário foi trazido para trabalhar com o seu tio e tentar a sorte no novo mundo, já que vivíamos a época em que milhões de europeus emigraram para diversos países dos outros continentes, em busca de terras para cultivar e de novas oportunidades para trabalhar.

Coincidentemente, enquanto embarcava no Porto de Gênova, de retorno ao Brasil, naquele 24 de setembro de 1908, nascia, em Camocim, o seu filho Fernando, da oitava e penúltima gestação de Sinhá Trévia.

Em 1910, dois anos após sua viagem à Itália, Giovanni Trevia retornou, novamente, à sua pátria-mãe, e aproveitou para buscar, na medicina do velho mundo, o tratamento para problemas de saúde que o acometiam desde o ano anterior.

Quase dois meses depois, retornou de sua visita, à Gênova e à Ligúria de suas lembranças, trazendo dois amigos bem jovens, a fim de que, a exemplo do Mário, fossem incorporados aos negócios, que continuavam promissores. Mateus, o mais jovem, seria integrado na mercearia, ao lado de Mário, enquanto o José ficaria envolvido na padaria, tendo em vista a experiência que trouxera da Itália, no ramo de panificação. 

A iniciativa de Giovanni Trevia, ao trazer pessoas de sua confiança e integrá-las nos negócios, talvez fosse uma precaução, considerando que sentia sua saúde em declínio, e passou a buscar recursos médicos em outros lugares. E, quis o destino que mais um golpe lhe fosse aplicado, quando sofreu a perda de seu amigo José, o padeiro, que veio a falecer, vitimado pela Febre Amarela, poucos meses após seu desembarque em Camocim.

Ainda neste ano de 1910, no dia 13 de novembro, Sinhá Trévia dava à luz a sua filha caçula Ana, conhecida por Nísia, sua nona e última gestação. Encerrava-se, assim, a época de nascimento de seus filhos, iniciada com Francisco, em l898; Antonio (Trevinha), em 1900; Maria, em 1901; José, em 1902; Giovanni, em 1903; Raimundo, em 1905 (falecido prematuramente em 1906); Carlos, em 1906; Fernando, em 1908; e Ana (Nísia), em 1910.

A saúde de Giovanni Trevia, entretanto, continuava a declinar, fazendo-o viajar para Manaus, onde, segundo informações fornecidas por um amigo, havia um médico alemão clinicando, temporariamente, naquela capital da região Norte e sobre o qual lhe foram dadas as melhores referências. Embarcou num vapor, como eram conhecidos na época os navios, tendo em vista que sua propulsão era realizada com auxílio de caldeiras, e rumou para Manaus, onde conseguiu ser atendido pelo citado médico.

Antes de decorrerem dois meses após sua partida, Giovanni estava de volta a Camocim, mas seu estado de saúde não apresentava melhoras, continuava apresentando sintomas de problemas na bexiga, para os quais não encontrava um diagnóstico que oferecesse um tratamento satisfatório.

Em maio de 1911, Giovanni Trevia fez a sua última tentativa para encontrar um médico que lhe concedesse um tratamento eficiente. Embarcou com destino do Rio de Janeiro, de onde retornou abatido, sem os resultados que tanto esperançou. Desembarcou no Porto de Camocim, no mês de junho daquele mesmo ano, já apresentando fortes sinais de que, a moléstia que o acometia, continuava vencendo as batalhas que ele travava, em defesa de sua sobrevivência. 

Ali, acostado ao trapiche, o navio devolve-o à cidade que ele escolhera para viver, onde, de fato, viveu, constituindo família, reconhecendo amigos e conquistando patrimônio. Entretanto, no seu retorno, conduzido de volta para casa em uma cadeira, por não mais conseguir locomover-se sozinho, acarretou uma profunda tristeza aos seus amigos e familiares.

No mês seguinte, no dia 20 de julho de 1911, às 8h30min de uma quinta-feira, Giovanni Trevia deixou viúva a sua Sinhá Trévia, em companhia de seus oito pequenos órfãos, quando o primogênito contava doze anos de idade e sua caçula ainda engatinhava, em sua tenra idade de oito meses.

Giovanni Trevia foi sepultado no mesmo dia, às 17h30min no antigo, e hoje extinto, cemitério de Camocim, o qual foi, durante muitos anos, conhecido como o Cemitério Velho. No local, que foi ocupado por este cemitério, existe hoje a Praça da Rodoviária, inaugurada em 1979. Coincidentemente, sessenta e oito anos após o sepultamente de Giovanni Trevia, o terreno do antigo campo santo deu lugar a esta praça, a qual recebeu o nome de Praça Sinhá Trévia.

Em meados da década de l970, pouco antes da extinção daquele cemitério, os restos mortais de Giovanni Trevia foram transladados para o Cemitério São José, em Camocim, onde se encontram sepultados, no mesmo jazigo de Amália Fontenelle Trévia.

Viúva ainda muito jovem e com oito filhos para criar e educar, Sinhá Trévia iniciou uma nova fase em sua vida. Era-lhe indispensável administrar o razoável patrimônio de tal forma que o mesmo se mantivesse estável e rendendo-lhe o necessário para a sobrevivência da família, não obstante a sua impossibilidade de continuar tocando os negócios com a mesma celeridade dos tempos de Giovanni. 

Todavia, mesmo com a parceria dos dois amigos Mário e Mateus, o comércio entrou em declínio, culminando, primeiramente, com o fechamento da padaria. Posteriormente, a mercearia, também, teve que cerrar suas portas, ao tempo em que Mateus, ainda muito jovem, resolveu embarcar, em l912, para trabalhar em um navio mercante.

Este velho amigo, cujo navio em que trabalhava ainda voltou, por duas vezes, a aportar ao cais de Camocim, aproveitou estas oportunidades para visitar minha avó Sinhá Trévia, presenteando suas crianças, com latas de biscoitos importados.

Posteriormente, soube-se que, em 1914, ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, Mateus foi convocado pelas Forças Armadas Italianas. A última notícia, obtida sobre o velho amigo é que o mesmo sobreviveu à luta insana do maior conflito que a humanidade conheceu. Entretanto, voltou, para casa, mutilado.

Sinhá Trévia continuou sua caminhada, mantendo sua família com os rendimentos oriundos dos imóveis que preservara. Seus filhos, logo cedo eram encaminhados para o trabalho. A maioria deles trabalhou no Rio de Janeiro, então Capital da República, alguns por temporadas, e outros ali se estabeleceram, a exemplo de Francisco Trévia, que não mais retornou a Camocim, e Giovanni (filho), que retornou a Camocim somente após a sua aposentadoria, na década de 1960. 

Aqueles que retornaram, após suas temporadas de dois ou três anos, quais foram o José, o Carlos e o Fernando, estabeleceram-se em Camocim optando por atividades comerciais. 

O Antonio, conhecido na cidade como Trevinha, ausentou-se para o Rio de Janeiro, mas retornou e não mais deixou a casa de sua mãe, devido ser portador de alguma limitação que não lhe permitia exercer suas atividades normais. As duas filhas de Sinhá Trévia, Maria e Ana (Nísia) casaram-se, respectivamente, com o comerciante Manoel Juarez Carneiro e o Engenheiro Mecânico, da então Rede Viação Cearense, Edmundo Vieira.

Sinhá Trévia, a despeito de sua maior dedicação direcionada para os filhos órfãos de pai, foi sempre de atuação marcante em diversas atividades sociais e políticas da cidade. Foi uma autodidata e fiel admiradora de Plínio Salgado. Além de militante do Integralismo, era responsável pela lista de assinantes e pela distribuição, em Camocim, do Jornal A Marcha, publicado em São Paulo e pertencente ao Partido Integralista Brasileiro.

A sua inserção em atividades sociais era mais visível na colaboração de artes dramáticas, quando preparava e dirigia peças teatrais a serem exibidas no extinto Cine Theatro Éden, de saudosa memória. 

Citando outra de suas intervenções nos movimentos de interesse da coletividade, também foi lembrada, durante muitos anos, uma campanha encetada com a sua participação, na década de 1940, com o objetivo de angariar fundos em prol da construção de um passeio e um coreto circular, atrás do antigo Camocim Club. Após a inauguração da moderna Praça da Estação, em 1954, aquele passeio ficou conhecido como Avenida Velha, até ser demolido, poucos anos depois, por razões até hoje desconhecidas.

Mas, retornemos a 1912, tempos em que as atividades comerciais, deixadas por Giovanni Trevia, foram encerradas, e época que foi marcada, também, pela despedida do amigo Mateus.

Havia, ainda, o remanescente italiano Mário Trevia, que decidiu não retornar para a Itália, mesmo com o falecimento de seu tio Giovanni e a partida de seu patrício e amigo Mateus. E permaneceu em Camocim, com os seus dezoito anos de idade, em busca do caminho profissional que deveria seguir.

Após alguns meses e com a chegada do ano de 1913, Mário Trevia recebeu o convite de Filocles Fontenelle, irmão de Sinhá Trévia, para morar e trabalhar com ele, em suas terras denominadas Urtiga, no município de Granja. Em termos de trabalho e ganhos financeiros, Mário Trevia atravessava tempos difíceis, o que o estimulou a aceitar o chamamento para a vida no campo, como nos dias serenos de sua infância, na distante Ligúria.

Com o seu envolvimento nas atividades agrícolas e criação de ovinos e caprinos, Mário Trevia adaptou-se ao sistema de trabalho e às dificuldades inerentes àquele modelo de sobrevivência. Havia, ali, na região da Urtiga, imensas faixas de terras devolutas, das quais ele se apossou de algumas dezenas de hectares e trabalhou no sentido de estruturá-las para garantir, mais adiante, a sua propriedade e o sustento de sua família, que certamente viria. Assim, Mário Trevia constituiu a sua, sempre lembrada, Furna da Onça.

Nas cercanias da Urtiga, nas terras conhecidas como Mato Grosso, morava a família Rodrigues, cuja filha, Maria Felicidade de Jesus, casou-se com Mário Trevia, em 1929, na igreja Matriz, de Granja. De seu duradouro casamento, Maria deu à luz dezoito filhos, dos quais, três faleceram prematuramente. 

A primeira gestação foi gemelar, mas, destes nascimentos, em 05 de junho de l931, somente a Fransquinha sobreviveu, tendo falecido o seu irmão gêmeo. Nos anos que se seguiram, nasceram Maria (Bia), Amália, José (Dedin), Antonio, João (Pio), Antonia, Nonata, Maria da Paz, Chagas, Sergina, Dalva, Carmélia, Terezinha e, por último, a Rosa, no dia 16 de janeiro de 1952.

Em 1957, Mário Trevia adquiriu a propriedade Tabocal, no município de Camocim, para onde veio com sua família, retornando, assim, para o lugar que lhe acolheu e serviu de porta de entrada para o Brasil.

O casamento de Mário e Maria perdurou por cinquenta e um anos, findando somente após o falecimento de Mário Trevia, em Camocim, no dia 26 de maio de 1980, com a idade de 85 anos.

Dona Maria permaneceu viúva até o seu falecimento, em Camocim, no dia 20 de novembro de 1988.

O Mário Trevia nunca visitou a Itália, desde que veio para o Brasil, em 1908. Seus pais, Domenico Trevia e Francesca Trevia, respectivamente nascidos em 26 de setembro de l866 e 11 de novembro de 1867, falecidos em 25 de janeiro de l929 e 26 de outubro de 1946, foram sepultados em Laigleglia, uma comuna italiana, na região da Ligúria, onde, também, repousam os restos mortais de Francisco Trevia e Vicencina Trevia, os pais de Giovanni Trevia.

Assim, os descendentes da família Trévia de Camocim, estão, todos, vinculados diretamente a um dos seus dois precursores italianos, originários da Ligúria. Destes dois imigrantes, as raízes repousam na Itália; dos seus descendentes brasileiros, as raízes mais próximas estão em Giovanni Trevia ou em Mário Trevia, tio e sobrinho, respectivamente, cujos restos mortais estão guardados em Camocim, o lugar que escolheram para viver e que lhes ofereceu o colo materno para o repouso final.

Texto extraído do livro "Outros Tempos", de José Maria Trévia