O “adeus” à Duna do Pôr do Sol, em Jericoacoara, que perdeu mais de 50 metros de altura, poderia ser adiado em até duas décadas caso um projeto ambiental tivesse sido implementado há cerca de 2 anos.
Por meio de placas condutoras de sedimentos e de implantação de vegetação natural, cearenses e turistas veriam a montanha branca por mais tempo.
A intervenção foi apresentada pela Secretaria do Turismo do Ceará (Setur), em 2020. Nos últimos anos, pesquisadores apontam a aceleração do processo de erosão da Duna e o provável sumiço total.
A Setur, então, poderia financiar a instalação de 1.180 guias de corrente eólica, que são espécies de condutores do vento, construídas com madeira e palha de coqueiro. As estruturas seriam de 10 metros de comprimento e distribuídas desde a Praia do Preá.
Além disso, um trecho de duna receberia vegetação nativa para a fixação da areia – o que também evitaria a entrada do material em imóveis. O projeto foi solicitado pela Setur e faz parte de uma tese de doutorado na Universidade Estadual do Ceará (Uece).
A Duna do Pôr do Sol está cada vez menor por um efeito natural, mas num processo muito mais rápido devido ao fluxo de pessoas que escalam o local facilitando a movimentação da areia. Além disso, a Vila de Jericoacoara barra a entrada de sedimentos levados pelo vento.
É como se a Duna deixasse de ser “alimentada” pelo material carregado pelo vento. Além disso, a criação de animais e a retirada irregular de areia também atuam nessa aceleração de erosão.
Para se ter uma dimensão, a taxa de perda de volume da Duna do Pôr do Sol já esteve em torno de 1%, chegando a 6% por volta de 2014. Em meados de 2020, esse indicador chegou aos 10%. De 60 metros de altura, em 1975, a Duna está com cerca de 9,8 metros.
Atrelada ao aumento da erosão, a duna deixou de ser recarregada naturalmente como antes. Gustavo Gurgel estima que a Duna do Pôr do Sol recebe atualmente uma quantidade de sedimentos 28 vezes menor do que em 2014.
PROJETO BARRADO
Com os alertas de pesquisadores sobre o desgaste da Duna do Pôr do Sol, uma proposta de intervenção elaborada e recursos disponíveis, por que nada foi feito?
Gustavo explica que o projeto passou por análise do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
No ICMBio, não foi expedida autorização devido a alguns critérios relacionados à unidade de conservação sobre uso restrito. Isso porque as guias eólicas são semelhantes a cercas e não poderiam ser instaladas.
“É uma questão de interpretação técnica, porque muitos lugares no mundo usam esse tipo de tecnologia. Em 1989, a gente já fazia esses trabalhos nas dunas do Paracuru e no Pecém. Depois dos resultados, esses processos foram para a Espanha, Alemanha, Portugal e Argentina, cada um com suas características”, detalha.
O QUE É POSSÍVEL FAZER?
Na época em que o projeto ambiental foi elaborado, em 2020, a Duna já tinha as dimensões que a fizeram conhecida internacionalmente. E voltar para aquele patamar não era o objetivo dos pesquisadores, mas sim reduzir o ritmo de erosão.
“Se não fosse feito nada, a estimativa era essa duna acabar em 2024 ou 2025, e infelizmente, em 2023 ela já está se acabando", detalha Gustavo. Fonte: DN
Por Tadeu Nogueira