(Jornal O Povo - Edição de 13/04/2023)
Com a recente escalada de casos de violência em escolas brasileiras, vereadores e deputados do Ceará passaram a apresentar várias propostas que buscam, em tese, garantir a segurança de estudantes do Estado.
Apenas nos últimos dias, a Assembleia registrou seis novas matérias neste sentido – que vão desde a criação de um “botão de pânico” para denúncias à disponibilização de efetivo armado para o policiamento de escolas.
Entre as propostas mais rígidas, estão duas apresentadas pela deputada e pastora evangélica Dra. Silvana (PL). Em uma delas, a parlamentar propõe a criação do programa Ronda Escolar nos quadros da Polícia Militar do Estado – uma espécie de "Ronda do Quarteirão" voltado para escolas. “O Ronda Escolar será uma atividade policial ostensiva, voltada à segurança dos estabelecimentos de ensino, atuando nos perímetros escolares”.
Em outra matéria, a deputada propõe autorizar policiais militares de folga a atuarem como seguranças armados em escolas públicas estaduais. Matérias semelhantes às propostas de Silvana também foram apresentadas por vereadores de Fortaleza. Julierme Sena (União), por exemplo, defendeu que guardas municipais passem a fazer o policiamento ostensivo do entorno de escolas da Prefeitura de Fortaleza, de Ensino Fundamental.
Outras propostas, no entanto, focam na criação de normas e protocolos mais rígidos de segurança. Em uma delas, Leonardo Pinheiro (PP) propõe a instalação de detectores de metais nos acessos de unidades da rede estadual. Em outra, Cláudio Pinho (PDT) defende desde treinamentos de segurança para gestores e até a fiscalização do comércio existente no entorno de escolas – com combate à “venda de bebidas alcoólicas” e de “jogos de azar”.
Redes de ódio
Para o sociólogo Ricardo Moura, especialista em segurança pública e doutor no tema pela Universidade Federal do Ceará (UFC), não há dúvidas de que escolas do Ceará precisam contar com equipamentos de segurança para professores e alunos. Ele questiona, no entanto, que a quase totalidade de propostas sobre o tema tenha foco na aquisição de mais materiais ou na restrição cada vez maior do acesso à entrada dos equipamentos.
“Nesses períodos (com ataques que geram comoção), essas ideias se apresentam, ganham força e se concretizam na forma de propostas e lei, e o debate fica muito prejudicado, porque ele está sendo feito com um olhar míope”, diz. Neste sentido, destaca sobretudo o desafio do Estado em “entender” as razões por trás deste tipo de crime, quase sempre associadas a redes de ódio e intolerância e à busca por reconhecimento nesses grupos.
“Essa discussão tem que estar presente nas escolas, na família. Entender o que é isso, o que é esse caldo cultural, importado de fora, que prega essa ideia da perda de vigor do homem, da ideia de que existe uma raça melhor que outra, essa misoginia onde há um forte ódio às mulheres, quando as mulheres são vistas como ameaça. São ideias muito perigosas, anacrônicas, arcaicas, mas que voltam a aparecer”, destaca.
“Elas aparecem em um vácuo de ideias, um vácuo político de ideologias, de algo que seja mais construtivo, e vão ganhando essa dimensão e vão sendo replicadas de uma forma intensa nessas redes sociais, nesses fóruns (...) coibir isso precisa de um trabalho de inteligência, de desarticular essas redes”, destaca ainda.
“Porque há pessoas que organizam esse caos, há pessoas que querem projeção. Esse caos não é espontâneo”, diz.
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