Em Bitupitá, distrito de Barroquinha/Ceará, enquanto a delegacia passava por uma reforma, os presos foram transferidos para esse chafariz.
Por Manoel Osdemi (Escritor Bitupitaense)
- Seu Pimpimmmmmmmmmm!- Tô morrendo de fommmmmmme!
Uma voz, de assinar ponto toda semana, já tinha seu cardápio preferido: peixe-serra frito. Só o meu pai sabia disso.
Quem morava próximo desse chafariz, não conseguia dormir. Os presos passavam a noite gritando por comida. Seu Pimpim, meu pai, como morava perto, era o primeiro nome a ser lembrado:
- Seu Pimpimmmm! - Tem comida hooooje?
Eu me acordava. Todo mundo se acordava. Minha mãe ja ia direto para o fogão. Eu ja sabia quem era: - é o Dedé papai, falava baixo para a minha mãe não ouvir, ela já estava desconfiando de alguma coisa, o meu pai só pedia serra frito, e se ela pelo menos sonhasse que tinha algum preso escolhendo o cardápio, ela ia lá e passava aquela lição de moral.
A maioria estava ali por uma simples bebedeira. Eles foram transferidos para esse chafariz enquanto a cadeia passava por uma reforma.
Aí não demorava muito, Seu Pimpim saía de madrugada levando dois pratos pela porta afora, perfumando a rua com baião-de-dois e serra frito, enchendo a boca d'água de quem morava próximo.
Quando chegava lá, só tinha uma forma dos presos terem acesso a comida: através de pequenos buracos na parede que serviam como suspiros.
Então, não tinha outro jeito: o papai amassava a comida com a mão, modelo, "capitão", e enfiava pelas pequenas aberturas. Meu pai não permitia que seus filhos o acompanhassem.
Coisas da vida...
Foto: Da esquerda para a direita:
Casas, do Zeca Dionísio, Zezim Dionísio, Igreja Assembleia de Deus, Zé Guará e Soares.