Além do sofrimento causado às famílias das vítimas, Camocim vem pagando alto por três crimes bárbaros ocorridos em menos de dois anos.
O dano à imagem turística da cidade, conhecida pela hospitalidade e tranquilidade, tem sido gigantesco.
Basta fazer uma busca no Google, por exemplo. O termo “Camocim” resulta em relatos que "deixam no chinelo" muitos dos roteiros dos filmes policiais da Netflix.
Dois dos casos foram parar no Fantástico, programa que detém a maior audiência do país. São 42 milhões de pessoas. Isso sem falar no público das redes sociais.
Essa onda de crimes de repercussão até internacional teve início em 6 de fevereiro de 2022.
Nesse dia, um policial do Raio, grupo considerado de elite da Polícia Militar, executou com cerca de 15 tiros um jovem de 19 anos, já contido e algemado, no interior da Delegacia de Polícia Civil.
Mesmo havendo vários outros policiais no local, ninguém deteve o atirador. O enredo foi perfeito para o noticiário nacional.
Passado pouco mais de um ano, em 8 de fevereiro de 2023, talvez imaginando que Camocim deveria voltar às manchetes policiais, um empresário resolveu, junto com outras quatro pessoas, torturar um indivíduo com paus com pregos nas pontas, alegando que teve seu bar furtado por ele.
Foi a primeira vez que houve uma tortura confirmada em Camocim.
Tudo foi filmado e postado nas redes sociais pelo próprio empresário, o que facilitou o trabalho da polícia. A grande mídia agradeceu também.
Já em 14 de maio, menos de 4 meses após a tortura, quando parecia que o Google iria voltar a destacar as belezas da cidade, um Inspetor de Polícia Civil invade a Delegacia, (de novo ela, mas sob novo endereço) e mata friamente outros quatro colegas, disparando mais de 30 tiros.
Essa foi a primeira chacina de Camocim em 143 anos de história.
Saldo dos três crimes: cinco pessoas mortas, uma ferida, sete presas e várias famílias destruídas, com sequelas para o resto de suas vidas.
Todos os envolvidos estão presos. Não que isso sirva de consolo. Longe disso.
Já a cidade, essa tenta seguir em frente, também com sequelas, tentando se reerguer após atos insanos que são exceção, e não a regra de uma das cidades mais lindas desse país.
Por Tadeu Nogueira