sábado, 9 de setembro de 2023

CAMOCIM E SEUS TIPOS HUMANOS

Por Carlos Augusto P. dos Santos 

A obra de Souza Lima, “Adolescência na Selva”, é pontuada de tipos humanos que habitaram nossa cidade no início do século XX. 

Sem dúvida, uma cidade não teria suas peculiaridades sem esses tipos, cuja existência marcam uma época, seja pelo aspecto exótico, pelo inusitado, ou mesmo por, em suas condutas e cotidiano, saírem dos ditos “padrões normais” que a sociedade institui. 

Nessas trajetórias de vida, muitos deles trazem consigo uma característica que os distinguem dos demais, tornando-os pequenas ilhas humanas, onde a sociedade dita “normal” gravita em torno. 

Ou seria o contrário? Se antes, muito deles eram tidos como loucos (comprovadamente ou não pelo saber científico), hoje são tidos como “especiais”. Prefiro dizer que eles são apenas pessoas que, muitas vezes, não por vontades suas, compõem o cenário social da forma como entendem o mundo. 

Feito este preâmbulo, vou elencar alguns desses tipos que me ocorrem agora, povoadores da minha trajetória de vida e de muitos dos leitores desta coluna. (Os retratados por Souza Lima ficarão para outra oportunidade). Quem não se lembra do Deusdete (ou Deordete, como queiram), balançando sua cabeçorra a pedir esmola de mão estendida, pés descalços, envergando quase sempre a mesma roupa? 

Aos domingos, quando meu pai me levava à Pedra para comprar o almoço, sempre divisava o intrépido carreteiro Pilombeta que, mesmo com muitos quilos na cabeça, não dispensava o rebolado característico de homossexual que era e tinha, como se estivesse numa passarela, para a alegria e chacota da molecagem do mercado a gritar palavrões e chistes que, creio, no íntimo, funcionava como uma plateia para o show particular de Pilombeta. 

No seu passo cadenciado e pequeno, o Catapora, para mim, era uma figura estranha que perambulava pelas ruas e se escondia nos escombros da então Estação Ferroviária. O que fazia? Depois de muito tempo soube que consertava máquinas de escrever. E o Zé Capado? Ao juntar o lixo da cidade em seus inúmeros sacos, carregava consigo não somente o mau cheiro característico, como os sintomas da doença conhecida como Síndrome de Diógenes.

Outro dia vi o Lucimar! No entanto, apesar do tempo e da história que passou mais de um ano sem dormir, a lembrança firme que tenho dele é de um Sancho Pança ao contrário, cavalgando ou tangendo seu jumentinho a vender lenha, carvão, água e a limpar os quintais de outrora. Dizem que era um autêntico pé-de-valsa e isso pude constatar um dia, quando compareci a uma destes forrós da periferia. 

Quando dei por mim, o Lucimar já tinha tirado minha esposa para dançar. Mais recentemente, nos anos 1990, a visão mais ingênua e bela que vi nos últimos tempos foi quando, ao abrir a minha porta numa manhã ensolarada de verão, me deparei com a ... (como é o nome dela mesmo?) completamente nua a tomar banho no jardim. 

Ela faz isso regularmente, até hoje, sem constrangimento. E a Regina, lá da Boa Esperança, será que ainda lança os seus impropérios e palavrões nas portas dos bancos contra os ladrões do seu dinheiro? Para finalizar, há os tipos que agora sempre estão na mídia. Um virou até título de coluna no Camocim Online. 

Quando não está pegando seus siris ou os ingressos de cortesias nas festas, Babau serve de alter ego para o Tadeu Nogueira anunciar os eventos do fim de semana. Pode haver uma pessoa do bem em Camocim como o Babau? E o Tinildo (foto)? É outro que, com seu faro canino, fareja à distância tudo quanto é comemoração gastronômica. 

E a senha? Bença Tinildo! Deufasfelis!

Texto extraído do Livro "Miolo de Pote", de Carlos Augusto P. dos Santos