domingo, 24 de setembro de 2023

QUEM FOI ENGENHEIRO PRIVAT, NOME DE RUA EM CAMOCIM?

A cronologia coloca 5 de maio como a data da morte do engenheiro Dr. José Privat em Camocim no ano de 1882, advinda das complicações médicas resultante de uma queda de cavalo. 

Mas, quem foi este homem, além da sua atuação na Estrada de Ferro de Baturité e Sobral, autor da planta da Igreja Matriz de Bom Jesus dos Navegantes em Camocim, na qual se encontram seus restos mortais? 

Afora, como se conta em alguns escritos, dele ser um "autêntico cavalheiro, de trato ameno e distinto, estimado e admirado por todos que o conheciam, incapaz de uma palavra áspera contra quem quer que fosse", distinto por seu "talento e ilustração incomum", o que se pode dizer da sua atuação como engenheiro nas ferrovias cearenses? 

O Dr. José Privat está incluso, portanto, na conjuntura das grandes secas nordestinas e atuou fortemente na concepção da salvação dos flagelados pelo trabalho nas grandes obras abertas pelo governo. 

Como os sertanejos não estavam acostumados com o ritmo e a natureza destas obras, vários conflitos se observaram na construção das ferrovias de Barturité e Sobral, nos portos de Acaraú e Camocim e nos açudes de Acarape e Quixadá.

Antes de vir para Camocim o Dr José Privat trabalhou na Estrada de Ferro de Baturité, onde os efeitos da disciplina nos acampamentos de trabalhadores ganharam as páginas dos jornais. 

A atuação dos engenheiros na organização do trabalho chegava às raias do autoritarismo a ponto do jornal Echo do Povo denunciar: Cada engenheiro é um Suserano da linha, que trata o público e especialmente os trabalhadores e empregados, como escravos, sendo obrigados a levantarem-se quando passam, chapéus na mão, e olhos cravados no chão, em sinal de obediência absoluta.

Neste sistema de disciplina e controle no e para o trabalho, o Dr. José Privat teve destacada participação na elaboração de um plano de trabalho, como assinala o historiador Tyrone Apolo Cândido. No sentido de constituir uma ordem de trabalho para o “bom andamento das obras”, José Privat, engenheiro da via-férrea de Baturité, redigiu um plano para as obras da estrada de ferro: um verdadeiro código disciplinar feito para nortear o trabalho dos retirantes. 

O seu plano falava no emprego de 2.400 operários, divididos em oito grupos 4 de 300 homens. “Cada grupo terá um administrador e um apontado rescrevente e será subdividido em 5 turmas de 60 homens cada um, dirigido por um feitor”. 

Da obediência e harmonia no trato para com administradores, apontadores e feitores dependeria o bom andamento dos trabalhos. Seriam eles que fariam, na lida diária, a distribuição das rações aos retirantes. 

Mas para garantir a ordem, o engenheiro Privat propunha ainda a criação de uma “polícia de cada abarracamento”, composta por dez homens. de confiança “tirados entre os trabalhadores”. (Entre a migração e o trabalho: retirantes e trabalhadores de ofício em obras de socorro público (Ceará - 1877-1919.

A fortuna memorialística em torno do seu nome está restrita à Rua Engenheiro Privat em Camocim e ao lugarejo Privat situado à margem da via férrea que dista 9 km de Granja, onde em 1926 foi inaugurada uma pequena estação denominada Dr. José Privat.

Texto extraído do livro "A Nostalgia dos Apitos", de Carlos Augusto P. dos Santos