Luminosa e bela manhã!
Para quê tanta luz, que me cegava a vista, com o seu intenso brilho, derramada, inteira, nesse pote mágico de beleza sem fim, pensava eu, naquele dia distante, admirando o caminhar solene do deus Aton, que começara a percorrer, garbosamente, os seus inexpugnáveis e vastos domínios.
Lembro-me bem daquele deslumbrante céu de brigadeiro, em que as gaivotas, em pequenos bandos, de manhãzinha, brincavam de pega-pega, voejando, alegres, pelos molhes, rasante à agua, perto do cais, abrasando de sublime contentamento o meu jovem coração, ao contemplar, fascinado, aquele momento único.
Chovera a cântaros, de madrugada, enchendo as lagoas da Senador Jaguaribe, e aquela luminosidade parecia ofuscar, ainda mais, os meus olhos, quando, curiosos, tentavam abarcar a paisagem, até a linha do horizonte, sem me dar conta de quanto tempo fiquei, sentado, ali, no velho trapiche, observando uma flotilha de canoas, de velas coloridas, que, sem pressa, bordejavam a Ilha da Testa Branca, quase riscando os seus manguezais, rumando às paragens que se estendiam ao largo do Rio da Cruz.
Que visão magnífica era tudo aquilo, Senhor.
Era Natal!
A cidade, enfeitada de paz, acordara cedo.
Nos lares, o milagre do Menino-Deus, na manjedoura, na pequenina Belém, parecia renovar-se, agora, plenamente.
Via-se reverência e louvor estampados em cada rosto.
Mergulhados em respeitoso silêncio, podia-se ouvir, nitidamente, o belíssimo coro dos anjos cantando, jubilosos, "Gloria in Excelsis Deo".
Que possamos ser crianças, de novo, para vivenciarmos, com grande alegria, a chegada do nosso irmãozinho Jesus, que, humilde, procura abrigo nos corações daqueles que, com boa vontade, se dispõem a acolhê-lo.
Abençoado e feliz Natal!
*Professor e Escritor Camocinense