Ao vislumbrar as derradeiras curvas do caminho, antes de atingir a vastidão da planície, compelido, por vezes, a retroceder, continuo a seguir adiante, olhando, emocionado, o brilho do sol.
Não tenho mais pressa!
Ando devagar, saboreando as pequeninas coisas do cotidiano, perdidas, outrora, na burocracia interminável dos dias, incrustradas, agora, gemas preciosas, num belo diadema real.
E abraço, com ternura, e gratidão, cada amanhecer como se fosse o último.
Certa feita, ao ser indagado se acreditava na existência de Deus, Einstein respondeu: "O Criador se revela por si mesmo na harmonia de tudo que existe no universo."
Comungo dessa visão do eminente cientista germânico, amparado, sobretudo, na sublimidade das ideias de Spinoza, perseguido injustamente como herege, pela Santa Inquisição, ao afirmar que podíamos contemplar o Altíssimo no sorriso de uma criança, na beleza de uma flor, no murmúrio dos riachos, no canto dos passarinhos, na altivez das montanhas, na poesia cálida e serena dos bosques.
Tudo isso expressa o amor divino por nós!
Batido, com vigor, na bigorna do tempo, aprendi a ser complacente com as pessoas, inclusive comigo mesmo, procurando estender, sempre que posso, o tapete do perdão, ao meu redor, que, ao invés da cama de Procusto, alonga-se cada vez mais.
No entanto, ninguém precisa ficar velho para trilhar os caminhos da vida com alegria no coração.
Basta pensarmos as feridas da alma, esquecermos os dissabores, fazermos as pazes com o passado, aquecermos a alma na chama da esperança do porvir de um novo amanhã.
Mas, lembremo-nos: Nada é para sempre!
Baruch dizia que devemos aproveitar a existência, na sua plenitude, respeitando o próximo, amando a família, tecendo amizades, cuidando da natureza.
Filósofo brilhante, Spinoza escreveu, com maestria, que manifestamos o pulsar da Divindade quando beijamos a mulher amada, agasalhamos a filhinha, nos braços, ou sentimos compaixão pela dor e sofrimento do próximo.
E continua a nos exortar, com seus ensinamentos, que desfrutemos das maravilhas do mundo, redescobrindo Deus que mora em nós mesmos.
Sob o azougue do pensamento de Spinoza, que atraiu a Europa, no século XVII, Ética, sua obra-prima, é uma joia da filosofia moderna, cuja tessitura é similar a um tratado de geometria, algo realmente genial.
Ao me deparar com os escritos magistrais de Spinoza, a chama do farol da fé aumentou, em mim, o seu fulgor, tornando-me, dele, um discípulo menor.
Assim, vejo Deus na poesia das manhãs, no luzir das estrelas, no fragor das ondas do mar, no voo solitário da gaivota, na doçura do olhar de uma criança.
É nesse Ser Supremo, Alfa e Ômega, imanente, misericordioso, que me acolhe, debaixo de Suas asas protetoras, em quem acredito.
Incondicionalmente!
*Professor e Escritor Camocinense