domingo, 12 de maio de 2024

PRINCESINHA DO MAR

Por Avelar Santos*

Cidade amada! Eis que mil sóis passarão - e o meu amor por ti jamais fenecerá!

Gaivota que voa, solitária, pelos molhes, planando, nas asas do vento de terral, nunca me cansarei de riscar o teu céu, de majestoso esplendor, de afagar tuas dunas, que semeiam poesia ao vento, de me encantar com o brilho das manhãs desfraldado na pintura debretiana da Ilha da Testa Branca.

Sobrevoando os mangues, rumando para o cais, avisto antigas salinas, perdidas, pobrezinhas, na vastidão da foz do Rio Coreaú, que fizeram a roda da vida girar por tanto tempo, parecendo divisar, por um momento sublime, o Areia Branca atracar no velho trapiche da Martinelli.

Ah! Quanta saudade!

Com o passado a teimar não sair das retinas da mente, remoendo os bons tempos quando os navios ainda atracavam no teu porto, dou curso ao plano de voo que ziguezagueia por sobre matas de coqueirais, entrincheiradas nos ermos caminhos do Lago Seco ao Maceió, descortinando um cenário paradisíaco que enche o coração da mais pura alegria.

E quando os últimos raios do sol refulgem, solenes, no teu mar de esmeralda, na Praia do Farol, vestindo o horizonte de radiosa púrpura cardinalícia, silencio o meu canto diante de tanta beleza, agradecendo, com gratidão, ao Criador, pelas infinitas bênçãos de mais um dia.

Nas noites de lua cheia, sob a magia das lamparinas celestes, no regaço dos teus manguezais, escreve-se um radioso poema, cujo encanto extasia a alma, fazendo-nos acreditar num mundo melhor.

Senhor Deus dos Desgraçados!

Nada existe de mais belo que as velas de Camocim boiando ao luar, de mãos estendidas, súplices, numa prece perene de louvor ao Onipotente, cujos velames desdobram a magnificência da paz por sobre as águas lugeiras faiscadas de prata.

Cidade do meu eterno bem-querer! Tudo em ti é encanto e fascinação.

Quando eu partir para as estrelas, como vou sentir falta do canto dos passarinhos, nas copas dos cajueiros, dos riachos correndo pelos baixios, sob o sol matinal, da quietude singela das madrugadas, acendendo ligeiro o pavio da imaginação do poeta.

No fim, levem, por favor, meu corpo cansado para repousar perto da orla, para que eu possa ouvir a voz do Oceano, no remanso das marés, a cada alvorecer, prantear, suavemente, minha triste solidão.

*Professor e Escritor Camocinense 
Foto: Vando Arcanjo