quinta-feira, 13 de junho de 2024

ACCAL, 23 ANOS DEDICADOS À CULTURA CAMOCINENSE

Por Paulo Emanuel Lopes*

Na noite do último dia 7 de junho, a Academia Camocinense de Ciências, Artes e Letras comemorou seus 23 anos de existência.

Muita gente conhece a Accal mais pela beleza do prédio histórico que abriga sua sede: a Casa do Engenheiro, erguida no então Parque de Manobras e Oficinas da Estrada de Ferro de Sobral, em Camocim, no final do século XIX.

Mas pouca gente é capaz de entender a verdadeira importância, simbolismo e desdobramentos positivos do evento que assistimos no galpão da Estação nessa noite.

(E digo “pouca” porque, apesar de uma boa plateia assistir ao evento - me surpreendeu positivamente, a gente sabe que poderia, e deveria, ser muito mais.)

O que representa para Camocim possuir um coletivo que, há mais de duas décadas, em um cenário de crise em muitas instituições sociais, mantém-se em pé, ativo e renovando-se?

Em outras palavras: para que serve uma instituição, como a Accal, em Camocim?

A razão é que nem só de pão vive o homem. A gente não quer só comida.

Participar daquela noite foi deleitar-se, ter pensamentos leves e esquecer, mesmo que por um instante, do mundo limitado, retilíneo e material que nos rodeia.

Foi celebrar Camocim, cidade cuja cultura, sob patronato de Raimundo Cela, nos presenteia com tantos escritores, pintores, artistas, memorialistas…

Mas, para além dessa cultura formal, da elite, há um Camocim que só conhece quem é daqui. Não digo só quem “nasceu”, mas também quem comeu da cabeça do coró, apaixonou-se e mora na cidade. Ou seja, nativos e agregados.

Um Camocim que anda nas ruas, bebe nos bares e compra no comércio. Porque, como diria a conhecida propaganda ufanista: o melhor do Camocim é o camocinense!

Há, em nossa cidade, conhecidas figuras populares que pertencem ao imaginário coletivo. É o caso do Babau, artista do rádio que só tem pressa nas pernas quando é pra dançar. Da Mimosa, que eu, quando criança, morria de medo quando a via de óculos escuros e com aquele pau, feito bengala. Ou do Tinildo, um delicado (e dedicado) católico, a quem nos acostumamos a pedir a bênção: “benstinildo!”

Estou falando porque este foi um dos momentos mais bonitos da noite. Quando Raimundo Arnaldo de Carvalho, o Naldo, apresentou seu e-book “Filhos da Terra”, que reúne a vida de personagens que, por não pertencerem às elites, não repousam nos livros de história. Em sua obra, Naldo faz um belo recorte do “espaço afetivo” da cidade, utilizando o conceito proposto pelo geógrafo Milton Santos.

Prestigiar a Accal é, portanto, (aprender a?) engrandecer Camocim. É mostrar o que temos de melhor; é valorizar o que, em todo o mundo, só existe aqui.

Aliás, um parênteses aos senhores do dinheiro: isso dá dinheiro.

Se queremos atrair mais turistas, temos que nos diferenciar. O que é que só tem em Camocim? O que é culturalmente instagramável em nossa cidade? O que é interessante de mostrarmos aos nossos visitantes, para além do trinômio Sol-Praia-Lago?

Não é que eu queira reduzir a importância da Accal - e de outros coletivos voltados à arte e à cultura - ao rolo compressor do capitalismo. Estou querendo demonstrar, na verdade, a importância (e o retorno) do investimento em cultura, como é o caso da Lei Paulo Gustavo, que financia a impressão desses livros.

Outro e-book lançado foi “História Religiosa de Camocim”, dos autores Maria Célia Pereira dos Santos, Gabriel Belchior e Jane Elida Costa e Silva. Uma obra super interessante! Ainda mais quando, em sua terceira parte, conta a história de um movimento ecumênico que, nos anos 1980, uniu religiões diferentes em prol da educação de crianças carentes no bairro São Pedro, em Camocim.

Por fim, não menos importante, registro o lançamento dos e-books dos dois agraciados da noite com a comenda Arthur Queirós: “Metamorfose Literária”, do radialista, escritor e ex-presidente da Accal Inácio Santos; e “Camocim de Porto e Alma”, do professor, Doutor e historiador Carlos Augusto Pereira dos Santos.

Se interessou pelas histórias? É só ir no site da Prefeitura de Camocim, ou clicar nesse link https://camocim.ce.gov.br/livros/ que você pode baixá-los, gratuitamente, para ler no seu celular. Ou ainda esperar até setembro, quando haverá o lançamento dos livros impressos, durante as comemorações do aniversário da cidade.

Ou, se interessou mais ainda, pode seguir as redes sociais da Accal @accalcamocim e participar das próximas reuniões. Quem sabe, um dia, não vai ser um livro seu ali lançado?!

*É Jornalista e escritor