quinta-feira, 20 de junho de 2024

FRANSQUIM GOUVEIA

Por Gouveia Neto

Minha mãe teve sete homens como irmãos.

Todos, sem exceção, ela ama até hoje, embora muitos deles já falecidos.

É comum estarmos reunidos na casa de meus pais e as lembranças saudosas, dos ‘Gouveias’ que partiram desta vida, regadas de lágrimas, serem citadas em nossas conversas.

A todos os meus tios, aprendi a amar desde cedo. Sempre os respeitei e os admirei com fraternal sentimento. Embora, de maneira tímida e encabulada.

Todavia, um deles obteve destaque especial. Seu nome, Francisco Luiz Gouveia, ou simplesmente, Fransquim Gouveia, ou ainda, como muitos o chamam: ‘padim’.

Meu primo Hudo, na intimidade, ainda quando garoto o chamava de ‘tie fresquim’, numa forma carinhosa de demonstrar como tio Fransquim cuidava, animava, dava conselhos, brigava e amava todos os seus sobrinhos.

Ao próprio Hudo, tio Fransquim, apelidou de ‘aniquelado’. Por este, quando criança, ser branco, loiro e de olhos claros. Ao Antonio José, filho do tio Fernando, o chamou de ‘balai’, no jeito barroquinhense de se falar ‘balaio’(de gatos). Dentre muitos apelidos que criou, como: potó, bocão, barrão, cuscuz, e outros.

Nosso tio, depois de cansado da profissão de caminhoneiro e limitado pela pouca visão, abriu uma oficina localizada vizinha de sua casa, na rua de baixo.

Nesta oficina, tio Fransquim, passou a exercer a ocupação de mecânico.

Inicialmente, tinha como único funcionário, nosso primo, Marcos Gouveia, irmão do 'balai', que pintava e soldava para os clientes. Profissão que este aprendeu por lá, sob as vistas do nosso tio.

Este local, também, servia de ponto de encontro para os garotos de minha época. Lá brincávamos de trapézio de circo, montávamos times de futebol, brigávamos uns com os outros (e tome cacete), sempre diante do olhar cuidadoso do tio.

-“Êxe culumim, é danado”! Ele dizia, quando um de nós se destacava em algo.

Na semana santa, confeccionávamos o ‘judas’, enxertando-o com as ramas de mata-parte que cresciam nos brejados do quadro da Igreja, nos meses de chuva, em frente sua residência.

Nos meses de mais vento, ajudava-nos a confeccionar e soltar os ‘papagaios’ ou pipas da calçada da igreja.

Sempre brincando, contando lorotas e conseguindo maneiras de ‘torrar’ nossa paciência, arranjando-nos namoradas, às quais, detestávamos tê-las como pretendentes, por servirmos de ‘mangação’.

Pois, no mínimo, eram horrorosas ou bem mais velhas.

Estando em nossa cidade, procuro vê-lo e me deleitar de sua presença. Nas minhas conversas diárias com meus pais, ao telefone, pergunto sempre por ele.

Tio, sempre quis lhe agradecer pela forma que ajudou a me educar. Quero que saiba: grande parte do que sou e de como aprendi a ser homem, devo à sua forma paternal de me falar o que pensa, de fazer piadas, de me ensinar coisas que jamais aprenderia com meu pai, enfim, brincar de ser tio. O nosso tio.

Texto extraído do livro, ainda inédito, "Eu, os meus e minha Barroquinha"


Do Camocim Online: Na noite dessa quarta-feira (19), Francisco Luiz Gouveia, o Seu "Fransquim Gouveia", faleceu aos 94 anos, em sua Barroquinha, de causas naturais. 

A publicação acima é uma singela homenagem póstuma de seu sobrinho, Gouveia Neto (à esquerda na foto).