domingo, 28 de julho de 2024

PINGA

Por Avelar Santos*

A manhã sorria, radiante de beleza, pela serra, naquele abençoado domingo do Senhor, em Tianguá, onde fora rever diletos amigos dos tempos do Seminário de Santo Antônio, em Lagoa Seca-PB, nossa amada - e inesquecível - Ipuarana.

Era um dia de céu límpido, na Ibiapaba, sem quaisquer nuvens perambulando, com o deus Aton atento aos caminhos dos homens.

Acordara cedo com o canto dos bem-te-vis, escondidos por entre as ramagens mais altas das jaqueiras, solfejando, em uníssono, a alegria da vida, hóspedes perenes da chácara do Dr. João Crisóstomo, um lugar cheio de paz, ideal para a contemplação da natureza.

Após o café matinal, com ovos de galinha caipira, pães recém saídos do forno, queijo de coalho e manteiga da terra, delícias da culinária cabeça chata, Dr. Albery Nunes, poeta tianguaense, Procurador Municipal aposentado, a quem conhecera dias atrás, firmando amizade, veio buscar-me, juntamente com minha família, para irmos ao Pinga, local idílico encravado no cume da Chapada Ibiapiana distante algumas léguas da cidade.

E lá fomos nós, estrada afora, subindo uma ladeira íngreme, dessas de dar medo, atapetada de pedras grandes, escorregadias, até descortinarmos, uma hora depois desse escarpado "rally", um platô, cercado por densa vegetação, que abrigava uma casa rústica.

Quando a adentramos, vimos que era bastante confortável, decorada com belas peças de artesanato, permitindo, ao visitante, uma cascata de emoções.

O dia transcorreu sem pressa, sob conversas amenas, conduzidas, com maestria, pelo anfitrião, que não se cansava de nos dizer do seu imenso amor por aquele pedaço do paraíso, discorrendo, também, na sua voz tranquila, sobre assuntos outros, que ratificavam sua vasta cultura, afirmando, por fim, que o trem do conhecimento devia correr livre, levando às estações da vida a paixão pelo saber.

Almoçamos feijão tropeiro, com carne de sol, debaixo da sombra de plantas seculares, cujos galhos pareciam se vergar para nos proporcionar maior comodidade, ouvindo, ao longe, o trinado dos sabiás laranjeiras e galos de campina, que falavam de amores perdidos - e da complexidade da Criação.

Chegada a hora de partir, deixei, uma vez mais, que os olhos filmassem a grandiosidade daquela paisagem guardando, na mente, todos aqueles momento tão sublimes.

Poucos meses depois, soube que o Dr. Albery Nunes fizeea sua viagem definitiva, voltando à Casa do Pai, onde certamente dispõe de um bosque, com um riacho correndo, ligeiro, até despencar numa cachoeira, similar àquela do seu recanto do Pinga.

Que a terra lhe seja leve, amigo. Descanse em paz!

*Professor e Escritor Camocinense