sábado, 7 de setembro de 2024

DIZEM POR AÍ

Por José Maria Trévia 
(foto - 1963)
(Escritor Camocinense)

Nesta foto de dezembro de 1950, Luís Carlos Trévia e Osmundo Campos, ao lado da canoa à vela do Senhor Osvaldo Campos. Ultimavam os preparativos para mais um passeio ao “Outro Lado”. Próximos ao cais, estão tia Jandira e Augusto Trévia. Ao fundo, quase ocultado pela vela, o prédio de dois pavimentos, a então sede provisória do Camocim Clube.

O ano de eleição numa cidade do interior constitui-se em verdadeiro manancial de acontecimentos, ora importantes, ora folclóricos, haja vista a diversidade de pequenos eventos, em que o dia a dia se compõe, e a exposição a que se acham submetidos os personagens populares. 

Na minha Camocim, especificamente no ano de 1958, havia uma figura política muito conhecida, tendo em vista a singularidade na forma de fazer sua campanha. O povo em geral sempre duvidava da legalidade e do registro de sua candidatura, questionando inclusive a validade de sua filiação a algum partido político. 

Era visto por considerável parte da população como uma pessoa dispersa, de uma postura incomum ou hábitos incompatíveis com um cidadão desejoso de chegar à Câmara Municipal, através das urnas. Ele ocupava, na Rua Santos Dumont, um pequeno ponto de comércio ou, talvez, de outra atividade, ostentando em sua parte frontal, o anúncio em letras vermelhas, “O SEGREDO DA CASA VERMELHA”, o que lhe atribuía um perfil misterioso. 

O seu nome era Francisco de Paula Pires, supostamente originário do Rio de Janeiro, o que lhe concedeu a alcunha de Carioca, como era conhecido pelos camocinenses. 

Durante a campanha daquele ano, o seu nome foi bastante divulgado no município, através de propagandas em pintura nas paredes e muros, expediente permitido, à época, pelos ditames da lei. Por motivos inexplicáveis e provavelmente de pouca importância, o Carioca se identificava como concorrente direto de Osmundo Rodrigues Campos, vereador bem votado, orador nato, além de locutor e cronista do Serviço de Altos Falantes Sonoros Pinto Martins, onde escrevia e irradiava uma crônica denominada “Dizem Por Aí”, com que apimentava o tom de sua candidatura e de seus partidários. Nesse clima, nos locais onde havia propaganda política do Carioca, era comum encontrar ao lado, os escritos:

– “Dizem por aí que Osmundo Campos vai ser vereador de Camocim, conversa esta que parece com a morte de José Catuaba, no Ipu”.

Atribuía-se, ao Carioca, esta citação exposta nos muros da cidade, como forma pitoresca de alfinetar a campanha de Osmundo Campos, tendo em vista haver circulado uma notícia de que o senhor José Catuaba falecera na cidade de Ipu, o que fora desmentido, posteriormente. 

 Os observadores populares que analisavam as disputas na campanha política, consideravam que também era provocação do Carioca colocar “Dizem Por Aí”, naquelas suas propagandas de muro. Isto porque este refrão fora criado por Osmundo Campos e constantemente utilizado na abertura e no encerramento de sua crônica diária, no S.A.F. Sonoros Pinto Martins.

Texto extraído do livro "Memórias de um Saudosista"