sábado, 19 de outubro de 2024

O ASTEROIDE DO APOCALIPSE

Por Avelar Santos* 

Um dia desses, insone, navegando nos verdes mares bravios da web, numa abençoada noite, fazendo uma jornada de cabotagem pelos jornais digitais, daqui e alhures, além de sites que versam sobre paisagismo, eis que me deparei, incrédulo, depois de muito velejar com meu catamarã, quase ancorando em Krakatoa, com uma mensagem intrigante do meu dileto amigo Dr. Olívio Martins, ipuaranense da gema, natural da bela Ipu (cujo sonoro nome vem do Tupi Guarani I-água, e o onomatopaico PU- queda), que dizia, com todas as letras, que o Apocalipse estava a caminho da Terra, montado não em um belo cavalo alazão, certamente, mas, sim, em um asteroide gigante, vindo de galáxias distantes, que se encontra, para nosso azar, em rota de colisão com aTerra.

A princípio, pensei alto, olhando de soslaio para uma mangueira amiga, que, camaradamente, faz sombra ao meu quintal, cujos galhos se vergavam sob o peso de tantos frutos saborosos, achando que o grande intelectual ipuense estivesse mesmo fazendo uma brincadeira, comigo, prosista de mão cheia que é, atiçando, com seu fino humor, as brasas de minha imaginação; todavia, ao prestar mais atenção ao que ele dizia sobre uma informação que lera na Time, obtida da própria NASA, vi, entristecido, e com bastante medo, que podemos, infelizmente, ir pelos ares dentro em breve.

Meu Deus! O que fazer? O que vai ser de nós? O que será de mim? Logo, agora, que estou devendo ao BB, uma quantia enorme, que nunca conseguirei pagar, por mais que me esforce, com estes juros de Zaqueu, generosamente cobrados, e eles sabem disso melhor que eu, que fizera o motor do fusca, ainda com prego grande a bater na Oficina do mecânico pai d´égua Josa, e com uma conta do tamanho da minha insônia, pendurada, sabe-se lá Deus desde quando, no açougue do Passarinho, que já me cobrou isto mil vezes, e eu respondo, olhando bem o interlocutor, estoicamente, "paciência", ao que ele, se benzendo, algumas vezes, aceita isso com um gesto de extrema boa vontade pela amizade fransciscana forjada ao longo dos anos.

Após ler essa triste notícia, minha asma recrudesceu, e, por instantes, não pude respirar direito, porquanto a aflição que varria o meu velho coração de papel disparara, também, ligeiro, o gatilho da ansiedade que carrego desde os tempos da mocidade, deixando-me numa situação de dar dó.

E, tentando me acalmar um pouco, comecei a encher os balões do pensamento, um a um, com passarinhos cantando, no jardim, logo ao raiar da Alva, fazendo uma algazarra enorme que me deixa feliz cada manhã.

E eis que de repente, vi luzes ofuscando tanto minhas retinas cansadas, que pensei mesmo que já estava no outro plano, quando ouvi, baixinho, minha filha me chamando - e senti a suavidade de sua mão pelo meu rosto.

Ao que parece, desmaiara.

Aos poucos fui me refazendo da grave crise asmática, provocada pelo susto que o nobre amigo, cuja terra viu Iracema, nua, banhar-se nas suas águas, e, tive a lembrança que ele falara, no final da fatídica mensagem da chegada do apocalipse, que iria logo construir um bunker, para abrigar familiares e alguns amigos de Ipuarana, e que eu era um dos felizardos agraciados por esse mega projeto do fim do mundo.

Puxa! Então não é verdade que o tal do asteroide vem logo, acabar com tudo, por aqui, por que, acredito eu, a construção desse bunker vai demorar alguns anos.

Oxalá, Senhor, ainda eu possa pegar, nos braços, uma netinha, algo que me deixaria bastante contente.

Respirando melhor, com as mãos tremendo menos, e o coração batendo mais compassado, comecei a fazer os planos para a viagem que nós faremos à Campina Grande, em 2025, para celebrarmos os 85 do nosso Seminário de Santo Antônio, abraçando, na ocasião, queridos amigos.

A Ti, Paizinho do Céu, toda honra e louvor; santificado seja sempre o teu nome.

*Professor e Escritor Camocinense