sábado, 4 de janeiro de 2025

A RODA DA VIDA

Por Avelar Santos*

Na atualidade, a tecnologia está muito presente no nosso cotidiano, enquanto o tempo parece encurtar diante de tantas atividades que fazemos, por vezes nós nos esquecemos das coisas singelas da vida.

No ruge-ruge do dia a dia não nos damos conta dos encantos da mãe natureza, preparados com esmero pelo Criador, a fim de que pudéssemos apreciar todas as maravilhas que Ele nos brindou na Terra.

Este é o alto preço que pagamos por algo extremamente abstrato chamado progresso.

Esta breve reflexão foi motivada ao assistir, certa madrugada, um show com o tenor Luciano Pavarotti, quando vejo adentrar, no luxuoso palco, em Modena, no sul da Bota, um cantor, que arrancou “bravos” diversos, causando um delírio coletivo na seleta plateia, que se comportou como oráculo dos deuses.

Era um reconhecimento imediato do público do que ainda estava por acontecer.

Recordo-me de que ele estava sendo conduzido pela cantora Celine Dion até onde os microfones estavam bem postados.

No que começaram a cantar – era um dueto – um silêncio inquietante percorreu todo o recinto e a emoção aflorou, vindo à tona em um rio de lágrimas de muitas pessoas, que a câmera, atenta, registrava.

Cantavam o tema do filme Titanic. Agucei, então, os meus ouvidos, quando Andrea Bocelli – era este o ungido do Senhor – com uma voz que brotava das profundezas de sua alma hipnotizou a todos os presentes com o seu desempenho magistral.

Senti-me, por um breve momento, transportado às delícias que nos espera, um dia, no Reino Celestial.

Bocelli cantava a vida a plenos pulmões. E foi aí que percebi nitidamente que ele era um pouco diferente de nós – não só pela voz privilegiada.

Na verdade, ele é cego!

Não que a cegueira nos impeça de fazer algo, mormente o ato de cantar. Isso não! Todavia, o que me impressionou bastante foi a maneira tranquila como Bocelli percorria a estrada da melodia. Era um galope sereno, ritmado, algo absurdamente diverso de tudo que, até então, eu havia escutado na vida.

E aí fiquei matutando, pensando com os meus pálidos botões: Meu Deus, quantos de nós, chamados “seres normais”, têm tudo na vida: saúde, família, emprego, amigos... E, mesmo assim, ficamos a nos lamuriar, pelos cantos, ao menor sinal de uma tempestade, com algumas nuvens escuras vagando, pelo céu, antes mesmo de ouvirmos o ribombar agudo e lancinante dos trovões.

Se cada um de nós não reclamasse tanto do peso do fardo que carregamos e começasse a agradecer ao bom Deus pelas dádivas preciosas que Ele, na sua infinita misericórdia, nos cumula, com desvelo de Pai extremado, a cada instante... Ah! O mundo seria outro! Muito mais colorido e belo! Mais pacífico e gentil! Mais solidário e fraterno!

Quantos de nós teimamos em não reconhecer isto?

Utopia? Loucura? Não! Basta cada um de nós querer de verdade, que, forçosamente, assim como uma engrenagem de uma roda de água movimenta uma turbina, nada deterá a nossa força interior, nem empanará nosso otimismo – e atingiremos o alvo avistado, mesmo distante, tão certeiros e confiantes em nosso propósito quanto o lendário Guilherme Tell.

O que precisamos para esta transformação? Muito pouco! Basta nós sabermos que temos Deus no coração! O resto vem por acréscimo! E veremos que tudo vai se modificar.

Mude sua rotina de vida! Liberte-se das angústias, das tristezas, do fantasma do medo que tanto mal pode nos causar.

Resgatemos, todos nós, o valor das coisas pequenas. E sejamos gratos a Deus pelo aprendizado extraído dos momentos difíceis!

Quem somos nós para contestarmos a geometria das sendas do Altíssimo?

Naquela noite, Bocelli estava inspiradíssimo!

Ao término de cada canção, fazia-se ouvir o tropel dos aplausos, enquanto ele, timidamente, esboçava um leve sorriso de agradecimento ao público que o ovacionava.

Eis o exemplo que devemos procurar sempre seguir.

Ora, se não cantamos maravilhosamente, o que isto importa? Pelo menos sigamos pela trilha da estrada da vida, com mais alegria, sem jamais nos esquecermos um só momento: Deus sempre estará, conosco, pois, sendo PAI, ama cada criatura humana, apesar de nossos erros e omissões, zelando, amorosamente, pelo nosso bem-estar.

Existe algo mais precioso do que esta plena certeza?

*Professor e Escritor Camocinense