domingo, 23 de fevereiro de 2025

ALBATROZ

Por Avelar Santos*

Boiando, serenamente, sob o facho luminoso do clarão da lua cheia, que alumia tudo, perto da Pedra do Mero, o Albatroz descansa um pouco, embalado pelo vento de terral, que acaricia, gentil, suas asas cansadas de tanto voar pelo Grande Oceano.

Riscado da prata mais pura, vinda da mina grandiosa do céu, o mar está calmo, parecendo olhar, enamorado, as estrelas, que, ao cintilarem, distantes, na Via Láctea, escrevem, em código Morse galáctico, a poesia sublime das noites tão encantadoras de minha terra amada, Camocim, que extasia nossa alma de paz.

Ao seu lado, com o velame recolhido, enrolado, no mastro de embaúba, o Papagaio, seu irmão de longa data, de incontáveis pescarias, juntos, dormita, todo encolhido, pobrezinho, sem se alvoroçar nem um pouco com o cantar em coro dos galos, que, alegres, tentam dizer à radiosa flor da madrugada, orvalhada pelos respingos intermitentes da chuva, que é chegada a hora bendita da manhã acordar feliz.

Nisso, o Albatroz é sacudido pela gritaria sem fim dos pescadores, que, sem perderem o bom humor, querendo espantar o sono de seus rostos, curtidos pelo sol e sal, conversam entre si, animadamente, sobre o bate coxa havido no Terra e Mar, pontuando, alguns deles, com fina ironia, certos detalhes daquela orgia provinciana que é melhor silenciarmos

Logo, com a vela mestra distendida, o Albatroz começa a voar velozmente, rumando para águas profundas, milhas adiante, distanciando-se da praia, cada vez mais, até se tornar um pequeno risco desenhado por uma criança, na folha de papel do horizonte , alaranjado, agora, pelos raios solares.

Por sua vez, naquele abençoado dia, o Papagaio, diferente daquele Barroso, brincalhão que ele só, que adora um holofote e fala pelos cotovelos, não teria muito que palrar, por que teria que ser calafetado, urgentemente, o seu enorme bico da quilha, já muito gasto pelo tempo.

E a luz se fez, espargindo beleza pelos tranquilos caminhos da orla!

E o passaredo em festa, revoando, livre, pelos quintais, dizia, sabiamente, com trinados maviosos, para quem quisesse ouvir, que jamais devemos desistir de nossos sonhos, nem tampouco permitir que a chama do candeeiro da esperança se apague, ou que o medo venha a calar a nossa voz, em definitivo, porque, assim como o Albatroz, dias também virão em que voaremos!

E o sol, enfim, vai clarear não somente a cidade, mas, certamente, o país!

*Professor e Escritor Camocinense