sábado, 19 de abril de 2025

O PAÍS DA INFÂNCIA

Por Avelar Santos*

No país da infância, a cidade, ainda menina moça, cabia inteirinha na palma de minha mão!

E, naquele antigo mundo encantado, tudo era belo, ordenado e bem seguro.

Não havia tirania nem tampouco injustiças.

Havia, sim, sonhos, dias ensolarados, banhos de mar na Praia das Barreiras, almoços de pescadas e corós deliciosos, noites perfumadas de ave-marias, estrelas que sussurravam estórias fantásticas de perdidos e extraordinários reinos planetários. 

Havia, também, as saudosas missas dominicais, os sermões - e o exemplo - de Monsenhor Inácio Magalhães, a fascinante descoberta das primeiras letras, a algazarra feliz de meus irmãos, a inigualável solicitude de minha amada mãe e os inesquecíveis ensinamentos de meu pai.

No país da infância, a energia elétrica não se cansava nada, nem um pouquinho, pois não vinha de Paulo Afonso. 

Ela era doméstica e barulhenta. E, sobretudo, muito metódica e pontual. Havia serenatas ao luar, velhos lampiões e lamparinas a espantar o breu da noite, cegonhas que perdiam o rumo e aqui aportavam com suas preciosas cargas, além dos pios estridentes de corujas e caburés na vã tentativa de afugentarem um pouco os fantasmas noturnos.

No país da infância, havia navios e o trem, viagens maravilhosas a Massapê, reisados a varar as doces madrugadas, namorados, nos bancos das praças, a confidenciarem segredos.

Havia, ainda, os folguedos de São João, pamonhas e milho assado, bolos e pés de moleque. Havia amigos que se foram, a Voz de Camocim, o Cine João Veras, as tertúlias do Comercial, as férias de julho, o Natal. Ah! O Natal! A Missa do Galo, Menino Jesus no presépio, a ceia, os presentes...

Havia harmonia e paz! E o mundo era tranquilo e reto!

No país da infância, o riso não era amordaçado nunca pelo medo, a esperança não divisava nenhuma fronteira, a ampulheta do tempo era infinita, a fé era acalentada docemente no peito - e o impossível era magicamente plausível.

No país da infância, as manhãs eram luminosas, repletas de descobertas e grande contentamento, no aconchego insuperável de uma velha casa, simpática, de coração enorme, que nos acolhia a todos tão bem e nos falava, olhando, pensativa, os intermináveis avanços e recuos do mar, com uma voz angelical, de coisas tão ternas que somente ela conhecia

No país da infância, os passarinhos ainda teimavam em tecer seus ninhos nos ramos das goiabeiras, sapotizeiros, revoando livres pelos quintais - e enchiam os balões coloridos dos incansáveis dias com trinados maviosos, sustenidos e si bemóis que não se ouvem jamais...

No país da infância, a saudade era uma palavra vazia e desconhecida, o amor era uma flor colhida, em buquês intermináveis, nos inúmeros públicos jardins - e o ruflar das asas ligeiras da alegria era um som perceptível, sempre.

No país da infância...

Meu Deus! Isto foi ontem!

Obrigado, Senhor, por tantas bênçãos e tantos bons momentos vividos!

*Professor e Escritor Camocinense